Entre a passagem e a porta
Toda passagem é sobre algum perigo: um precipício, uma vereda estreita com animais ferozes a volta, na Páscoa a morte e ressurreição, na pandemia atual: as mortes e privações de liberdade, e um futuro incerto, mas que deverá abrir uma fusão de “novos horizontes”, sim pois o diálogo deve ser entre culturas e civilizações com cosmovisões diferentes e não em grupos fechados.
A porta e o “caminho” (pode se pensar em ciência como um método) pelo qual podemos e devemos passar para entrar em uma nova realidade, que pode muito bem ser a casa comum, a harmonia entre homens e destes com a natureza e indo mais longe com o cosmos, que sabemos tem leis ainda menos conhecidas por nós.
A complexidade que envolverá este futuro deve ter um pressuposto básico, ou emergimos de uma triste crise juntos, ou aprofundamos nela e teremos na próxima virose mundial (pode ser nova crise ou não) uma realidade ainda mais dura, a passagem deverá ter uma porta e a abrimos juntos.
Seremos mais pobres num primeiro momento, isto é absolutamente certo, teorias da conspiração que este ou aquele se sairão melhores é mera especulação, até para os endinheirados, as bolsas despencam, vi um dono de uma cadeia de lojas brasileiras esbravejando, até as portas das igrejas estão fechadas, então quem terá a passagem pela porta é aquele que aprendeu a solidariedade.
Só faremos a passagem após o fim da pandemia se continuarmos a lutar e sonhar, abrindo nossas portas.
A verdade e a complexidade da existência de Deus estão muitas passagens bíblicas, os profetas antes da vinda de Jesus tiveram revelações misteriosas em sonhos, Isaías previu o cativeiro na Babilônia, na Babilônia, Daniel desvendou o sonho do rei Nabucodonosor, entre vários outros até que José ao saber que Maria estava grávida fugiu e em sonho o anjo o avisou sobre a verdade.
A verdade histórica (no sentido que Gadamer apontou) precede a verdade mística, João Batista foi o último e o maior dos profetas, e Jesus várias vezes pronunciou “em verdade, em verdade vos digo” geralmente quando contava uma parábola, em uma das passagens Ele diz ser a “porta” e afirma (Jo 10, 10): “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, mas é imperativo passar pela verdadeira porta entre tantas que prometem maravilhas, mas não proclamam a solidariedade mundial.
Que este tempo de dura prova da pandemia nos sirva para abrir a alma e recriar um mundo mais fraterno, onde haja a vida seja plena para todos cidadãos, mas isto terá que ser construído com a paciência que aprendemos na pandemia.