RSS
 

A retomada ontológica e o Ser dinâmico

28 mai

Se existe uma ontologia em Hegel ela é estática, ainda que entre o ser e não ser exista um tornar-se ele é uma afirmação do ser e não a sua negação poiética ou noiética (noesis aqui no sentido da fenomenologia husserliana), é pressentimento ou captação no momento atual da mudança ou fusão de horizontes, e poiésis no sentido de uma mediação ou uma linguagem do Ser.

A retomada ontológica que embora estática, em certa medida está presente em Hegel, ela é estática ao ver o ser em oposição ao não-ser, enquanto como momento de interioridade de vida e do ser, ela é justamente o devir, que exterioriza-se em uma relação com o Outro, o diverso.

Porém a interpelação de Peter Sloterdijk a Heidegger em sua Regras para o Parque Humano não pode ser esquecida, assim como a crise do pensamento científico da Europa apontada por Husserl em sua obra da maturidade na qual interpela tanto o objetivismo fisicalista e como o subjetivismo transcendental, retomando o seu Lebenswelt, o o mundo-da-vida.

A questão de Sloterdijk faz sentido ao pensar nos tempos escabrosos do fim da Segunda Guerra Mundial, após o campo de concentração mas também a bomba de Hiroshima dos aliados, e nesta nova “guerra” contra a pandemia parece voltar a fazer sentido nos perguntar sobre o Humanismo.

Em Heidegger é como Da-sein, “ser-ai” (ou ser-sendo), que o humano assume a tarefa d pastorear o ser, e o é no sentido sentido do lugar-tempo (usando a nova dimensão quântica) que habita o Homem, uma vez que lugar agora é todo o planeta, mas os nacionalismos subsistem, não como afirmação de povos que é justa e real, mas como delimitação de pastoreio e interesses.

Sloterdijk parece ter razão ao apontar que o “desvelamento” da destrutividade política ficou reduzida à sua forma mais explícita e encorajada de ser como a fórmula “vontade de poder” (Sloterdijk, 2012, p. 284) em uma “síntese do humanismo e do bestialismo” (Sloterdijk, 2000, p. 31), e que parece continua igualmente em uma ambiguidade como movimento, e não se pode furtar aqui de citar algumas formas de neo-nacionalismos que retomaram atualmente com muita força, sua análise portanto não é uma fantasia.

A reação ao discurso de Sloterdijk em Elmau, dedicado a leitura de Heidegger e Lévinas, que é o princípio de seu livro que seria sistematizado depois, ele inverte a relação entre ontológico e ôntico, e começa a elaboração do que virá a chamar de antropotécnico, os recursos ônticos que se prevalecem sobre os ontológicos.

O que vai revisar é se o epíteto de “casa do ser”, que ainda resta ser de fato habitado, não seria um meio paradoxal de “memória (do ente) pelo esquecimento (do ser)”, mas não o fez através dos meios literários, os quais mantiveram tanto tempo o humanismo metafísico ?

Pode-se conceituar esta “casa do ser”, como tendo noesis e poiesis de sua alma, não num só num sentido metafísico mais do Espírito definido de maneira diferente de Hegel  ? nossa resposta é que sim, há uma forma de afastar-se do bestialismo por uma “vida de exercícios” humanos, de amor e de solidariedade, quem sabe a pandemia sob a dor de tantas mortes, desperte esta “alma”.

SLOTERDIJK, Peter. Crítica da Razão Cínica. Trad. de Marco Casanova, Paulo Soethe [et. al]. São Paulo: Estação Liberdade, 2012.

SLOTERDIJK, Peter. Regras para o parquet humano: uma resposta a carta sobre o humanismo. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade,  2000.

 

Comentários estão fechados.