Não há cidadania sã sem areté
A construção da sabedoria (episteme) e da virtude (o areté grego) no combate a doxa (mera opinião da verdade relativa) e aos sofistas, que apesar de sábios estavam corrompidos pelo gosto do poder, pelas paixões e pelos instintos, fizeram Sócrates, que o conhecemos a partir dos diálogos de Platão, e do próprio Platão construir um modelo novo de cidadania que precisava de educar, sair da Caverna para a luz e de organizar o conhecimento para o verdadeiro Bem.
É fato que o sentido de excelência foi adotado por autoridades do Estado, porém a sua origem etimológica continua válida e defendê-la é sim defender o bem, senão caímos no relativismo sofista, qualquer verdade e qualquer argumentação é válida, a maiêutica socrática é ainda válida e perguntar é dialogar.
Martha Nussbaum, uma das mais renomadas filósofas atuais na antiguidade clássica, apontou em seu livro A fragilidade do Bem: “… a indolência, o erro e a cegueira ética causam inúmeras tragédias”, são aspectos relevantes que os democratas devem lembrar para a defesa da democracia e o risco de que os sofistas modernos tomem o poder e manipulem as opiniões, não se tratam apenas de fake-news, posições equivocadas e autoritárias, é preciso defender valores de verdadeira cidadania, a areté (na figura, a escultura em Éfeso).
Já explicamos o sentido bíblico da rede, da pescaria e o lançar as redes, em outra passagem após retornar do mar da Galiléia Jesus e os discípulos se encontram com a multidão, e sendo o lugar deserto os apóstolos pensam em dispensar a multidão por falta de alimento, mas Jesus diz para ver o que havia de alimento e faz o conhecido milagre da multiplicação dos pães e peixes, a partir de 5 pães e 2 peixes.
É claro que a virtude cristã está além da proposta pelos gregos, estende-se a moral pessoal e a compreensão da misericórdia, porém não exclui a aretê cidadã e de domínio dos instintos e das paixões, nos dias atuais tão afloradas e atingindo mesmo os religiosos, má leitura da multiplicação dos pães e peixes que está mais relacionada a aretê cristã que a polis, pois estavam “num lugar deserto” (Mt 14,15), isto é, uma espécie de “retiro”.
A virtude da compaixão é necessária para a distribuição dos bens, o processo de concentração de riqueza se acelerou com a pandemia, sem recolher os poucos pães e peixes que restam de uma economia em crise para socorrer milhares que estão famintos, sem emprego e muitos sem esperança, esse deverá será a verdadeira nova normalidade se quisermos dias melhores, só se houver dias melhores para todos sem esquecer os milhões que perderam empregos, esperança e familiares nesta pandemia.