Narrativas, Palestina e Israel
A oralidade primária, período anterior a escrita impressa, era a forma de transmitir histórias e a cultura e tradição dos povos através da narração, vivemos na modernidade a cultura impressa e agora emerge uma cultura chamada por Byung Chul Han de “pós-narrativa”.
Diz Han: “hoje todo mundo fala em narrativa. O paradoxal é que o uso inflacionário das narrativas revela uma crise da própria narração”, diz no início de seu livro “A crise da narração”, estabelecendo uma oposição entre narrativas e narração.
Profetas e oráculos eram os responsáveis por narrativas no período anterior ao da escrita, é bom lembrar que os escribas e as tabletas de barro estavam presentes em culturas arcaicas, entretanto, foi a narrativa que sustentou tradições nas culturas orais, incluindo as originárias.
Uma interpretação moderna, feita por Walter Ong, discípulo de Marshal McLuhan, é que os mitos foram usados como um processo mneumotécnico, ou seja, “ganchos” para que a narrativa não se desviasse da narrativa inicial, mantendo culturas e tradições, assim grandes obras da cultura ocidental como Ilíada e Odisseia podem ser relidas neste aspecto.
Os profetas não se diferenciam destes aspectos cultuais, tem a pretensão ou de fato podem ser revelações divinas, já que inúmeros fatos nestas narrativas revelam a intervenção divina, a saída de Abrão (só depois será chamado Canaã) da região da Caldéia, dando origem ao povo hebreu, que significava do outro lado do rio, até a chegada a região onde nascerá seu filho Isaque, mas também terá um filho com a escrava Hagar, chamado Ismael, e só depois terá um filho com Sara, Isaque o qual terá dois filhos Esaú e Jacó (depois chamado de Israel, aquele que lutou com Deus).
Já no ventre da mãe os dois lutavam e diz a narrativa bíblica, Genesis 25:23: “E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor”.
Desde a concepção a narrativa bíblica revela dois povos em luta, Rebeca era estéril e quando gerou os gêmeos, Esaú nasce primeiro por alguns minutos e deveria herdar as tribos, mas Jacó usando uma artimanha de se passar pelo irmão que era peludo, vai ao pai que está quase cego e pede que o abençoe, o que é feito, mas depois vendo que teria que lutar com o irmão, diz a narrativa, numa região chamada vau Jaboque (afluente do Jordão) ele luta com um anjo para Deus o abençoar, e a partir daí é chamado de Israel, que significando aquele que luta com Deus.
Porém os ismaelitas continuarão a existir e não se confundem com os Palestinos, que vem dos antigos povos chamados filisteus, inicialmente estavam na costa sudoeste de Canaã, formando a Filístia, apesar de terem adotado a cultura local Cananéia, estudos apontam uma origem indo europeia por inúmeras palavras e também nas primeiras guerra já sabiam fazer o aço, enquanto os israelitas dominavam ainda o bronze (na foto o mapa de 830 a.C.).
«Origem dos filisteus pode ser finalmente revelada por DNA antigo». National Geographic. 15 de julho de 2019.