Amor: o sócio e o próximo
Um dos capítulos mais duros da queda civilizatória é a transformação do conceito de amor, há até patologias que vivem do cancelamento desta relação, porém a base é a transformação em interesse, importa mais os interesses do que qualquer tipo de empatia ou afetividade.
Paul Ricoeur foi o filósofo que abordou diretamente esta questão em seu livro “História e Verdade”, que diria é um complemento do livro de Hans-Georg Gadamer: Verdade e Método”.
O egoísmo, o fechamento em círculos viciosos, abrem separação de abismos com o Outro, não há outra palavra que defina melhor, exclusão, é ela que leva a incredulidade do amor ao próximo e abre caminho para as relações de interesses, em poucas palavras relação de dinheiro.
O que outro poderia parecer impensável, agora relações econômicas criam círculos concêntricos, estruturas de poder e até mesmo gangues urbanas relacionadas ao dinheiro, e são elas que deterioram a base social, destroem relações empáticas e criam relações de disputa e ódio entre grupos, na base do “brain rot” está o conjunto destas relações sociais.
Para explicar isto, Ricoeur discorre sobre a caridade: “A caridade não precisa estar onde aparece; também está escondida na humilde e abstrata agência dos correios, a previdência social; muitas vezes é a parte oculta do social ”, Paul Ricoeur em Le socius et le Prochain (1954), e está traduzido no livro História e Verdade de 1968.
Já no livro de Gadamer o que vamos encontrar é como fazer estas relações na leitura de um texto, ou no diálogo contínuo sobre determinado tema, é preciso uma “fusão de horizontes”, antes do diálogo, aquilo que primariamente os gregos chamavam de époque, ou seja, fazer um vazio para ouvir e dialogar com o Outro.
Este exercício é difícil, para não dizer quase impossível na sociedade polarizada e qualquer discurso sobre o amor não passa de mera retórica, na base está “segregar” o Outro.
Assim quem permanece na caridade, no diálogo e na compreensão, tem propriedade para falar do Amor.