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Além da dor: optar pela vida

06 mar

Não a guerra, ao ódio e a indiferença significa ir além da dor, muitas vezes é difícil passar por diferenças de opinião, conflitos de cultura e até de ideologias, porém isto é exatamente o que supõe a dor como uma contingência normal da vida.

Byung-Chul Han ao analisar os analgésicos, a anestesia permanente como aquela que limita não só os sentimentos: “A dor é detida antes que ela possa colocar uma narrativa em movimento” (p. 72), e ainda: “O inferno é igual uma zona de bem-estar paliativa” (p. 73).

“Hoje, não estamos dispostos a nos expor à dor. A dor, entretanto, é uma parteira do novo, uma parteira do inteiramente outro” (p. 73), assim leva ao encontro e à vida, “ela permite apenas a prosa do bem-estar, a saber, a escrita à luz do sol” (idem).

Na incapacidade de compreender a dor como um processo de mudança, muitas vezes ela é substituída pela resiliência, que pode fazer sentido com grandes obstáculos ou um grande esforço para superar determinada circunstância de dor, porém em muitos casos é apenas uma teimosia com situações que levam a verdadeira felicidade, aquilo que Sloterdijk chama de uma “sociedade de exercícios”, esforços que não levam a uma superação.

Os gregos tinham o mito de Sísifo (já postamos sobre isto, veja a imagem), um rei astuto que desafiou enfrentar a Morte e Hades, resultando em sua condenação de empurrar eternamente uma pedra até o topo da colina, Albert Camus tem um livro que fala disto e atualiza o tema.

A verdadeira resiliência entende que existe um caminho novo, uma dor “parteira do novo”.

Quando o povo reclamava na passagem do Egito para a terra prometida, dizendo que tinha saudades das cebolas e dos restos que comiam como escravos do faraó, Moisés os repreende e diz (Deuteronômio 30, 19): “Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós de que vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, …”, indicando o caminho da liberdade e da construção de sua nação.

O enfrentamento de dificuldades, dores e até mesmo aflições em tempos difíceis, é certo exige resiliência, mas ela não pode ser confundida com o erro, a pura teimosia ou “exercícios” que a nada levam e não favorecem o encontro da felicidade.

HAN, B.-C. A sociedade paliativa: a dor hoje. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

 

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