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Amor, hiperpoesia e advento

03 dez

Os conceitos estão no livro de Edgar Morin “Amor, Poesia e sabedoria” (Instituto Piaget, 1997), na verdade reúne três palestras, mas colocadas em uma relação interessante, onde o amor “é o auge da loucura e da sabedoria” (pag. 30) e a poesia diz citando Rimbaud “não é um estado de visão, mas de vidência” (pag. 38).

Sobre a poesia, Morin diz que o homem tem duas línguas. Uma delas é a poética, a outra língua é da prosa. “Na poesia, prosa compreende o tecido de nossas vidas”, diz Morin.

Duas línguas, duas palavras, dois olhos, duas formas de nomeação e percepção, duas maneiras de ver e entender a realidade, a da prosa e a da poesia da realidade, vida vivida mas também sonhada.

Mas a poética, contradizendo e convertendo o prosaico ao poético, inclui a vinda vindoura, o advento e a esperança.

Prosa é uma maneira de viver e construir, também poética se podemos inclui nela sentimentos positivos.

Segundo Morin, tivemos duas rupturas na poesia, a primeira na renascença quando ao tornar-se “profana” separou-se da prosa, mas segundo o próprio autor: “separou-se dos mitos, … da sua fonte que é pensamento simbólico, mitológico, mágico” (pag. 40), e acrescentaria do espiritual, a segunda ruptura foi o surrealismo.

A segunda é o surrealismo, no início do séc. XX, “a recusa da poesia de deixar-se fechar no poema … não na negação do poema, dado que Breton, Peret, Eluart, etc. fizeram poemas admiráveis … ” (pag. 41), cita Chaplin como exemplo desta recusa, assim “desprozaicar a vida quotidiana, reintroduzir a poesia na vida, tal foi a primeira mensagem do surrealismo” (idem).

O que vivemos hoje é o “desfraldar da hiperprosa … de um modo de vida monitorizado, cronometrado, fragmentado, compartimentado, atomizado, não só de um modo de vida” (pág. 42) … mas também de um modo de pensamento “em que doravante especialistas são competentes para todos problemas … está ligado ao desfraldar econômico-técnico-burocrático” (pag. 43).

O autor liga este pensamento ao “abandono da ideia de salvação” (pág. 43) que ligo ao advento, e na visão de Morin, a invasão da hiperprosa “cria a necessidade da hiperpoesia” (idem), nada mais propício a este início de “advento”, a espera do que ou de quem virá.

Se as religiões dizem “sejam irmãos que seremos salvos”, Morin diz “sejamos irmãos porque estamos perdidos” (pg. 44), mas como diria Rimbaud “onde há medo, há salvação”.

Tenhamos esperança e trabalhemos para a fraternidade (dos justos claro, os outros jamais acreditariam nisto), como diz Morin “a finalidade da poesia é nos colocar em estado poético”. (pág. 46)

 

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