Arquivo para outubro 8th, 2015
O mal ético e a corrupção
Agostinho de Hipona resolveu o problema moral, problema de sua existência por foi maniqueísta ANTES de tornar-se religioso (quanta religião maniqueísta um milênio depois!), dizendo que o mal é ausência do Bem, poderíamos dizer ausência do Ser para não cair numa discussão religiosa demais.
É incrível a quantidade de tentativas de “naturalização” do mal neste fim de época, diria até que talvez este seja o próprio “mal estar da civilização”, claro definido por outro de modo diferente, mas quase sempre parecido, como Hanna Arendt em “A banalidade do mal”.
No comentário ao livro de Jean Hyppolite sobre o Hegel de Logique et existence1, Paul Ricoeur foi claro diante da questão hegeliana do Saber Absoluto, dizendo: “Mas é mesmo esse o problema? A alternativa é entre o não-saber e o saber absoluto ? Na verdade nós nunca estamos perante esse género de alternativa; a nossa vida passa-se muito mais no âmbito dos discursos imperfeitos, aproximativos; (…).” 2
Assim devemos relevar nossas suas palavras sobre algo que leva o discurso a sua imperfeição não apenas por ser um saber aproximado, não é isto que está em questão, mas a nossa própria intrínseca incompletude humana, que como se fosse um ensaio em todo o discurso, sempre estamos em busca da sua própria perfeição.
È assim que parece ser o pensamento ao caracterizar o pensamento de Husserl, base de todo pensamento existencialista atual: “[…] um pensador para quem a racionalidade permanece uma tarefa que não pode ser historicamente efetuada”3.
Por isso ainda que não possamos falar em justiça absoluta, não se pode naturalizar o roubo, a corrupção, a política dos interesses pessoais, porque ela caminha no esvaziamento do ser, enquanto a ética, a responsabilidade social e a honestidade caminham em sua construção.
Milhares de trabalhadores sem emprego, a marginalização crescente e os bens básicos em falta a milhares de pessoas, é aquilo que separa o justo da abominável corrupção política.
1.HYPPOLITE, Jean. Logique et existence. Essai sur la logique de Hegel, Paris, PUF, 1953. 6 P. 2.RICOEUR, “Retour à Hegel”, in Lectures 2, Paris, Seuil, 1992, pp. 173-187, p. 177. 7 P.RICOEUR, “Conclusions “, in H L VAN BREDA (ed) Vérité et vérification. Actes du quatrième colloque international de phénoménologie (1969