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Arquivo para novembro 12th, 2018

Em 1888, Charles H. Hilton e a 4ª. dimensão

12 nov

O trabalho de Charles H. Hinton de 1888, trazia três aspectos novos ainda hoje, pouco ou quase nada tocados pela ciência: o fim da ideia de tempo absoluto, a questão da consciência (não só como histórica) e uma nova concepção de espiritualidade.

Ideia de Kant que a propriedade de estar no espaço, como sendo uma qualidade de qualquer objeto definível, isto será importante para o empirismo e o mecanicismo na modernidade, tem como ideia a apreensão de objetos definíveis pelo nosso trabalho mental, assim a primeira ideia decorrente será uma forma de ver a mente como um mecanismo.

Hinton fez com este ideal de tempo e espaço absoluto, derivado de Kant, fosse repensado, e quem sabe não foi uma forte influência no Teoria da Relatividade, que nasceu depois.

Para isto discute a ideia de Kant sobre a propriedade de estar no espaço, como não sendo tanto uma qualidade de qualquer objeto definível, mas como meio pelo qual se obtém uma apreensão de objetos definíveis, sendo uma condição de nosso trabalho mental. Hilton faz um trabalho engenhoso com a ideia que o espaço é um véu pelo qual vemos os objetos, numa leitura positiva de Kant, torna-o um meio pelo qual aprendemos o que é, ou seja, o espaço é um instrumento da mente através do qual se pode chegar ao objeto, e é importante observar que isto foi feito muito antes da visão quântica de que o tempo e o espaço são relativos, que o primeiro a anunciar foi Heisenberg.

Disto será decorrente a ideia que a nossa consciência, partir da consciência de nós mesmo (que será o em-si de Hegel) e de nossos sentimentos terão uma espécie de valor direto e absoluto, para falar na linguagem do idealismo, não podem ter valores subjetivos, mas apenas objetivos por ligados e direcionados a objetos (o de-si de Hegel).

Divide esta forma de consciência em duas partes: “até certo ponto, podemos filtrar nossa experiência do mundo externo e dividi-lo em duas partes. Podemos determinar os elementos do eu e as realidades” (Hinton, 1888), assim pelos modelos de representações e “somente por modelos e representações feitas no material do cérebro que a mente conhece mudanças externas”, todo um conjunto destes modelos formará a representação na mente do mundo.

      Por isso afirmará Hilton: “muitas vezes é dado como certo que nossa consciência de nós mesmos e de nossos próprios sentimentos tem uma espécie de valor direto e absoluto”, assim não é pela interação com este mundo e nem com os sentimentos dele derivados que formamos o modelo, mas pela representação de um modelo “absoluto”.

Assim, “material” significaria simplesmente “apreendido pelo intelecto, tornar-se conhecido e familiar” (Hinton, 1888) e acrescenta: “nossa apreensão de qualquer coisa que não seja expressa em termos de matéria é vaga e indefinida. Para perceber e viver com aquilo que vagamente discernimos, precisamos aplicar a intuição da matéria superior ao mundo ao nosso redor. E isso parece-me o grande incentivo para este estudo” (Hinton, 1888).

Disto deriva, por sua vez, a ideia de transcendência e espiritualidade, o sujeito cognoscente e sua transcendência enquanto para o idealismo, era a ideia que só se pode chegar a percepção do objeto, e portanto a consciência deste, se realizar uma transcendência do sujeito (da subjetividade e dos sentimentos) para chegar ao absoluto dos objetos (ou a sua objetividade e concretude).

Afirma Hinton sobre a consciência: “Verifica-se que os processos de pensamento e sentimento estão conectados com o cérebro. Se o cérebro é perturbado, pensamentos, visões e sons entram na consciência que não tem uma causa objetiva no mundo externo”, ora se é possível por processos estocásticos e aleatórios, ou mesmo efeitos com construção especial para isto, pode-se criar não só a sensação, mas também a relação com os objetos, e são subjetivas.

Afirma Hilton sobre esta forma, que hoje é chamada de interativa, que a relação com os objetos: “Eles seriam pensamentos e imaginações, não observações de fatos externos” (Hilton, 1888), não sendo nem alucinações nem virtualidades.  

Na falta de categorias própria Hinton vai recorrer ao éter (“aether”), mas hoje poderíamos atualizar como fractais, dimensões intermediárias entre a linha e o plano, ele dirá que é mesmo nesta dimensão, mas ao criar a ideia da quarta dimensões, vai supor também algo entre o plano e o cubo, o seu tesseracto, que hoje é o hipercubo.

Hinton, Charles H. (1888) The new era of thought. London: S. Sonnenschein & Co. (Chap. 7, 9, 10 and 11)