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Arquivo para março, 2020

Complexidade humana, finitude e psicologia

03 mar

Nada mais débil que desejar prender o homem que torna-lo refém de ideias ou de métodos estáticos, assim não há tese e antítese, mas ser e não ser, Husserl afirmava que “pelo fato de conceber ideias, o homem se torna um homem novo, que, vivendo na finitude, se orienta para o polo do infinito”, mas ideia aqui aquele é o eidos da Grécia antiga.
Este conceito vem de uma raiz proto-indo-europeia “weid”, “ver”, origem das palavras, εἶδος (eidos) e ἰδέα (ideia), segundo o Dicionário “American Heritage Dictionary” , e sua origem pré-socrática está ligada a investigação sobre o que são as coisas em sua essência, e assim aparece a ideia de substância, como o que uma coisa é independente de suas mudanças de “forma”.
Edmund Husserl antevendo que resultaria a filosofia idealista que se fixou nas formas e que não enxergou mais a essência, afirmava “os filósofos, na atualidade, são muito aficionados a crítica em vez de estudar as coisas por dentro”, é devido a este fato que nos fixamos nas formas, e nos efeitos sem nunca nos remeter as coisas e as essenciais.
Assim se estabeleceu sua filosofia fenomenológica, é preciso retornar “às coisas mesmas”, em uma famosa expressão de Husserl, e sua fenomenologia é este caminho de volta as coisas, ao mundo da experiência vivida ou do “lebenswelt” (mundo-da-vida) que é o contrário do mundo das ideias, desde Parmênides, passando por Platão, até Kant e Hegel.
A fenomenologia nasceu da psicologia social de Franz Brentano recuperou a ideia de intencionalidade, vinda do conceito ontológico de consciência, sendo ela própria o que põe em relevo o ponto mais importante desta vivência, ou seja, a intenção elucida a estrutura do que é consciente.
O que se esconde então em toda vivência, é a intenção do que se é consciente, e se toda consciência só faz sentido como consciência de algo, a psicologia trata do que não é consciente ou não está acessível neste nível.

 

Autoajuda, espiritualidade e psicologia

02 mar

A diferença é bastante grande, mas para muitos incluindo as livrarias, estes assuntos estão na mesma sessão, fazendo uma brincadeira diria que o primeiro dá a ideia que sozinho você se resolve (se autoajuda) e o segundo você precisa de um profissional, então é mais caro.
Porém a questão é mais profunda e grave a autoajuda criou uma série de crendices populares, por exemplo, Pai Rico, filho pobre, então a autoajuda sugere Filho Rico, ou então Aposentado Jovem e Rico ou ainda Pai Pobre para jovens, enfim a lista é imensa, se fosse verdade todos diriam o mesmo, mas a vida não tem estas fórmulas mágicas.
Porém o objetivo de todo processo de autoconhecimento, entre eles a psicologia é um, pode ser eficaz se for fundamentado em experiencias e fatos reais da vida de uma pessoa, assim não pode ter uma formula geral, e isto é tão antigo como o pensamento epistêmico “conhece-te a si mesmo”, mas é preciso que isto não seja uma doxa, ou seja, mera opinião sem fundamento.
A psicologia clínica, só para dar um exemplo, descobriu que os nossos sintomas, os nossos problemas, o nosso sofrimento surgem e crescem a partir de fontes inconscientes, isto significa que há uma camada que conscientemente temos pouco acesso, que dão origem ao que somos.
Assim hoje há um problema ainda mais graves aonde residem charlatães e falsas promessas de autoajuda, a espiritualidade sem contexto pessoal e social, a “ascese desespiritualizada” como afirma Peter Sloterdijk, uma espécie de catarse ou autoajuda que leva ao fanatismo sem espiritual.
Até mesmo chamá-la de espiritualidade é um engano, é uma autoajuda revestida de uma religião manipulada e de crendices infundadas, mas a verdadeira espiritualidade existe e é uma forma de possibilitar equilíbrio e nos ajudar com fontes inconscientes de problemas ou mesmo de soluções.
Enfim seria bom separar os três campos, fórmulas de autoajuda pessoal, social e laboral, tratamento clínico de problemas psicológicos e verdadeira espiritualidade que não cofunda as três coisas, uma forma de ascese pessoal ou em comunidade que leve a melhoria das relações e uma felicidade maior de convívio.