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Arquivo para maio, 2024

O homem-mundo e o provinciano

03 mai

É possível que alguém tenha um sentimento capaz de abraçar a humanidade em suas diferenças e contradições, se for capaz de abraçar as enfermidades e feridas do outro.

Aquele que é capaz de entender o mundo como um todo, entendendo a complexidade das culturas, dos sentimentos e dos sistemas culturais diferentes, é capaz de abraçar e se solidarizar com as dores da humanidade, este é um homem-mundo.

O provinciano não é capaz de ver além de sua aldeia, pode-se até elogiar o espírito de aparente paz e deleite daquele que vive em um mundo pequeno, ou numa bolha, porém é dali que partem os piores preconceitos, as piores xenofobias e a incapacidade de ver além.

Se Honoré de Balzac dizia: na província se vive em público, agora na aldeia global todos vivemos em público, cada cidadão é portador de uma câmera que pode registrar tudo.

Para ser no mundo um sinal de esperança, em um tempo cada vez mais conflituoso é preciso ir além dos próprios conceitos (que são pré-conceitos) e entender que a lógica da vida social vai se mudando desde que passamos a viver numa aldeia global, a cultura entre pela TV, pelo rádio e pelas mídias sociais, e não há como retroceder, vieram para ficar.

Os pecados e incompreensões que elas deram vazão não são novos, apenas deu-se agora uma visibilidade maior e nos chocamos com uma sociedade com dificuldades de ver o outro com respeito e compreensão.

Aqueles que querem liberdade, apressam em limitá-las, aqueles que proclamam o amor, não querem o mesmo amor fora de suas bolhas, não resolvemos as nossas dificuldades e feridas e ao mesmo tempo aumentamos o clima de incompreensão na humanidade.

Os grandes impérios contemporâneos trabalham culturalmente estas dificuldades, ódio ao diferente, intolerância a cultua do outro, e assim alimentamos no microcosmo a política de um belicismo crescente e que ameaça tomar toda humanidade.

Nunca foi tão urgente o amai-vos uns aos outros, há até os que o proclamam, mas para sua pequena aldeia ou sua bolha provinciana.  

 

Os impérios medievais e o ocaso

02 mai

A civilização romana já existia, porém como império inicia-se em 27 a.C. quando o Senado e o Povo de Roma proclamaram Otaviano príncipe, que no significado original é “primeiro cidadão”, e como tal deveria ser venerado e iniciam-se a conquista de diversos territórios.

O Império Romano foi até o ano de 476 a.C., quando Rômulo Augusto foi destronado pelos hérulos que são os germânicos, porém vindos de mais ao norte, segundo alguns historiadores, teriam origem na Escandinávia.  

Um dado histórico pouco conhecido é que foi após a morte e crucificação que Roma finalmente domina e submete o povo judaico, as tropas do general Tito tomam a cidade de Jerusalém em 8 de setembro de 70, o Templo que havia sido construído por Salomão (970 a.C.) é incendiado e os habitantes deportados como escravos.

Nos subterrâneos do império romano viviam diversos povos que apesar de submetidos mantinham sua cultura e seu ânimo, e entre estes povos estavam os cristãos que cresciam em número e os apóstolos eram estimados por toda comunidade.

O que ligam os povos e das suas culturas que são próprias, eram a solidariedade e o espírito de amor que existiam entre eles, diferente do que acontece nos dias de hoje que há divisão entre os próprios povos, a unidade entre as comunidades eram fortes, e também crescia a ideia de estados a partir da visão republicana de Platão e Aristóteles, porém a visão imperial e as guerras permaneceram.

Se estes impérios e guerras podem ser pensadas realmente como um tempo obscuro, nos mosteiros e nas pequenas comunidades agrárias onde a vida continuou a florescer tanto o processo civilizatório como a preservação de suas culturas originárias, é também do final deste período o império turco-otomano, além de extenso um dos mais longos da história, de 1299 a 1923, período que tiveram outros impérios na Europa como o Carolíngio de 800 a 888.

Todos tiveram o ocaso por suas contradições internas, o espirito sempre opressor e bélico que pode parecer o motor da história, mas é justamente o contrário, a culturas sobreviveram apesar destes desejos de submissão e opressão de povos diferentes.

Há sempre esperança e vida para aqueles que permanecem no sentido de civilização humana.

 

Impérios modernos e o trabalho

01 mai

O início da modernidade marcou por uma ruptura entre o mundo prática, objetivo da razão, chamado pelo idealismo de objetivo, e um mundo sensível, do amor, da esperança e da vida equilibrada, onde a natureza humana pode se expressar e se desenvolver, chamado de modo incorreto de subjetividade (o que seria próprio do sujeito).

Não foram poucos autores que a partir do início do século XX passaram a questionar esta divisão do homem em vita activa e vita contemplativa, Hannah Arendt e atualmente Byung Chul Han são os mais lembrados, porém a ideia da contemplação vem da antiguidade, de estóicos e de alguns místicos estudados na Patrística, como Gregório de Nazianzo, (329-390) um dos mestres da contemplação sendo citado por Chul Han.

A palavra trabalho vem de tripalhium, surge de torturas medievais que fazem alusão a tirar as “tripas” ao esforço contínuo sem descanso que vai mercar o início da revolução industrial até a conquista do limite de horas de trabalho e algumas leis mínimas de respeito a vida humana.

Na idade média, é nos mosteiros que nascem os primeiros ofícios, as técnicas de culinária (como os embutidos feitos para preservar a carne), e também as bibliotecas e os copistas que iniciam uma do trabalho humano contemplativo (não é subjetivo), como o lema entre monges beneditinos: ora et labora (medita e trabalha).

É bom lembrar que o trabalho pesado até o surgimento dos mosteiros eram feito por homens “livres” e que muitos monges tinham origens nobres e iam para o mosteiro aprender a trabalhar e também a ler e escrever porque grande parte da humanidade daquele tempo era analfabeta, e também deve-se lembrar o impedimento da miopia e hipermetropia, já que os óculos e as lentes são do final da idade média.

Depois da concepção da moderna indústria e do estado, que também é patrão de empresas estatais, monopólios em países socialistas, que não diferente em exigir eficiência e esforço máximo encarcerando o homem na “vita activa” sem espaço para serem e elaborarem sua vida plena, com espaço para a meditação e o lazer.

Já na revolução industrial inglesa, o Gin (que é a pinga lá) movimentava a capacidade máxima dos modernos escravos industriais privados da vida doméstica, do lazer e da cultura.

O que será a sociedade pós-industrial, pós-modernista ainda é uma incógnita, por hora, os impérios querem o monopólio das forças produtivas para garantir o poder sobre a força de trabalho e não dar liberdade para o pleno desenvolvimento humano, a vida plena é adiada.

O grande dom divino que é a vida e vive-la em abundancia dependerá de grandes mudanças, os impérios lutam para garantir que isto não acontecem, embora digam que é pela liberdade.