Farisaísmo do estado moderno
O desejo de moralista moderno de Bauman, que agrada o farisaísmo contemporâneo, ou a falsa religiosidade (de esquerda e de direita) segue na lógica de libertar o homem do pecado, agora só existiria o pecado social assim expresso: “A promessa de uma vida liberta do pecado (agora renomeado como culpa) foi tão somente o projeto de refazer o mundo à medida das necessidades e capacidades humanas, de acordo com um projeto concebido de modo racional” (Bauman, 2011, p. 12), ou “… a impotência ética dos leigos e a autoridade ética dos peritos explicam-se e justificam-se mutuamente. E o postulado de uma ética ´devidamente fundamentada’ suporta-as” (Baumann, p. 23).
Os limites entre a ética e a moral, para este autor pretensamente pós-moderno (ele é de uma modernidade tardia e ressentida) desconhece que as relações humanas não podem ser entendidas por regras, este é um dos modos de redução do Ser, no sentido ontológico.
A resposta que pode ser encontrada na ontologia pós-moderna (Lévinas, Ricouer e Peter Sloterdijk) é aquela que evidencia a preocupação com o Outro, a ética moderna e da modernidade tardia encontra-se nos limites do “Mesmo” e embora queria fazer crítica do individualismo, acaba por uma crítica “moral e ética” ao indivíduo, eis o farisaísmo moderno.
Assim ela não pode, dando um exemplo concreto, falar da corrupção sistêmica dentro de uma relação de perversidade do estado com o cidadão, mas irá falar e fazer valer a “moral e ética” do cidadão pretensamente controlado pelo estado, está do lado oposto da histórica.
Lévinas esclarece este Outro que é preso ao Mesmo , a moral e a ética que ultrapassem a modernidade é aquela que desvela-se na Responsabilidade moral e incondicional que cada pessoa exerce por meio de suas atitudes “junto-com-o-Outro” no dia a dia, assim coletiva.
Para Bauman o que permitiu que a violência fosse autorizada e as vítimas desumanizadas, foi especialmente por definições e doutrinas ideológicas, assim para ele o Estado Moderno pode ser salvo por alguma consciência moral (modernidade e Holocausto, p. 41), de quem ? eis a modernidade tardia ressentida, mas deixemos ele próprio dizer:
“Se pararmos de confiar em nosso próprio julgamento, iremos nos tornar sensíveis ao medo de estar errados; chamamos o que receamos de pecado, medo, culpa ou vergonha, mas seja qual for o nome, sentimos a necessidade da mão útil do perito para nos trazer de volta ao conforto da segurança” (Bauman, p. 42).
De onde se recrutam os peritos ? do estado, nada diferente de Hobbies em seu “Leviatã”, eis a modernidade tardia, o sólido que é o estado e não o Ser junto-com-o-Outro.
Peter Sloterdijk adverte em “O desprezo das massas”, que é a moral dos repressores, ditadores e saudosistas do “estado moderno” ou moralistas farisaicos.
Bauman, Zygmunt. A vida em fragmentos: sobre a ética pos-moderna, SP: Boitempo, 2011.