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O desprezo pelas massas e a multidão

12 jun

Desprezam-se as mídias, as redes e qualquer elaboração mesmo que científica feita pela “massa”o-desprezo-das-massas termo usado por Peter Sloterdijk em seu livro “Desprezo das massas” (Estação Liberdade, 2001), mas que pode muito bem ser substituído por um adjetivo mais correto: a “multidão”.

O livro nasceu de um diálogo com Elias Canetti e seu diagnóstico acerca da agressividade da “massa” e estendeu-se em um diálogo com Heidegger, Nietzsche, Foucault, Rorty (critica neste a sua aposta em uma estupidez anti-filosófica) e alguns outros, curiosamente em alguns momentos chega a citar a teologia da graça, e esta é sua tônica dizem o que os “amantes das massas inteligentes” vai afirmar: “Por essa razão em todo mundo crescem como erva daninha aquelas comissões de ética que, como institutos da destroçada filosofia, querem substituir os sábios.” (p. 99)

Identifica imediatamente a multidão nem passividade nem objetividade, mas: “Só o fato de que a multidão moderna, ativada e subjetivada, passa a ser insistentemente chamada de massa pelos seus porta-vozes e pelos que a desprezam, já aponta para que a ascensão à soberania do maior número possa ser percebida como um processo inacabado, talvez inacabável.” (p. 12)

Ao contrário de outros modernos tardios, Sloterdijk se posiciona: “A massa não reunida e não reunível na sociedade pós-moderna não possui mais, por essa razão, um sentimento de corpo e espaço próprios; ela não se vê mais confluir e agir, não sente mais sua natureza pulsante; não produz mais um grito conjunto. Distancia-se cada vez mais da possibilidade de passar de suas rotinas práticas e indolentes para um aguçamento revolucionário.” (p. 21).

Daí nasce os dois desprezos da elite “engajada” e da elite econômica, afirma: “Necessariamente aparece duas vezes também o segundo desprezo, ou desprezo composto, uma vez de baixo, como desprezo ofensivo das elites por parte das novas massas flexibilizadas, que fazem de seu modo de vida a medida de todas as coisas e querem libertar-se de seu observador que as despreza; e como desprezo das massas e de seu amplo idioma por meio dos últimos elitistas, que sabem desprezados seus objetivos pela massa e pressentem que na cultura de massas em organização acabou de uma vez por todas aquilo com que se importam.” (p. 70)

E esclarece o pretenso “engajamento”, como: “Essa primeira ciência humana engajada não esquece sua missão em tempo algum. Com seriedade metódica e fineza estratégica ela persegue seu objetivo pretendido: se for necessário suprimir a própria essência — por causa das diferenças essenciais a serem negadas —, ela também pagará esse preço.” (p. 87)

O texto provocou uma polêmica em função do futuro do humanismo, portanto não há final, apenas que a massa quer ser multidão, as redes, os blogs e os heróis anônimos estão aí.

 

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