Edgar Morin e o provincianismo
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921, estudou História, sociologia, Economia e Filosofia, foi da resistência francsa, é diretor emérito o mais importante centro de pesquisa francês O CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), e tornou-se codiretor de um centro que passou a levar seu nome Centro Edgar Morin, antigo Centro Nacional de Estudos Transdisciplinares de Sociologia, Antropologia e História (CETSAH), e ainda doutor honoris causa por mais de 30 universidades.
Seu mais recentes livro A Via (la voie) traz importantes contribuições para ao futuro da humanidade, e não por acaso recebe o subtítulo “para um futuro da humanidade”, onde anuncia em meio ao que chama de policrise (a crise cultural, do pensamento, econômica e até mesmo humanitária), que “entre a desilusão e o encantamento existe uma via que é a da vontade e da esperança”, dando-nos um alento.
Afirmou em entrevista ao “Le Monde Diplomatique”, que existe em versão do português, que “Há também alguns processos positivos, mas eles permanecem invisíveis ou são pontuais. O improvável já ocorreu na história da humanidade. O provável não é definido, permanece incerto. Nós podemos observá-lo em diferentes épocas da história. Eu o vi em 1941, quando havia uma grande probabilidade de dominação nazista por toda a Europa. Os soviéticos, com a defesa de Moscou, e os japoneses, bombardeando Pearl Harbor, o que forçou a entrada dos Estados Unidos na guerra, fizeram as probabilidades mudar. Isso para dizer que, quando as probabilidades são negativas, eu não fico desesperado, eu me ponho em defesa de um programa”, lembrando que já vivemos grandes dilemas.
Em respostas que poderiam servir para nós, se saíssemos do dualismo provinciano de duas opções que não são exatamente opostos mas quase religiosas, diz Morin sobre a europa: “O que é preciso reformar? As estruturas sociais e econômicas? Ou as pessoas e a moral? Eu digo que esses processos têm de vir juntos. Porque, se você reforma somente as estruturas, você chega à situação da União Soviética. Mas, se você propõe caminhos individuais ou comunitários, eles fracassam depois de alguns anos. Operando nos dois planos, essa corrente conflui para criar o novo”, aqui não saímos ainda do maniqueísmo da luta do bem e do mal.
Ao falar, por exemplo de um avanço novo na França que é a “Economia solidária”, aqui com fracas e apagadas experiências, lá afirma: “a Secretaria de Economia Solidária, do governo federal [francês], identificou mais de 42 mil experiências de economia solidária no país”, só para dar um exemplo de uma alternativa interessante.
Para não falar apenas do provincianismo “à esquerda”, Morin lembra também na entrevista ao Le Monde Diplomatique que: “O neoliberalismo está em crise. Ele se apresentava como uma ciência, mas hoje sabemos que é uma ideologia. E assistimos à crise gerada por ele. O problema é que sabemos fazer a denúncia, mas não sabemos enunciar o que queremos, qual é o novo caminho”, aqui apresentado como novidade salvadora de uma economia em cacos.
Dono de uma visão privilegiada do planeta, seu livro Terra-Pátria demonstra isto, afirma: “hoje há uma causa que, em nome da liberdade e contra a dominação, não tem nome; é a causa de toda a humanidade, de todos os povos, de todos os continentes”, e soluções locais ainda que pretensamente revolucionárias e inovadoras, são apenas a pequenez provinciana.