Para onde vai o futuro II?
Comentamos apenas o prefácio do livro de Edgar Morin, para agora introduzir suas ideias principais, o educador começa por descantar a ideia de uma previsão linear, a “ideia de que “o futuro se forjaria no e pelo desenvolvimento das tendências dominantes da economia, da técnica e da ciência” (Morin, 2012, p. 11), isto já foi dominante mas verificou-se ineficiente.
Cita o perito dos peritos franceses, o presidente das Sociedades Estatísticas da França, Robert Gibrat que afirmou: “Nestes últimos vinte anos, os peritos regularmente se equivocaram”.
Descarta assim categoricamente, a concepção do vir a ser histórico como uma concepção simplista, é preciso conceber o futuro por uma concepção complexa, analisa por exemplo, a revolução Francesa, que preciso não apenas ser reescrita no século XIX, com idas e vindas como a Restauração por exemplo, mas por meio de experiências novas como a do socialismo no século XX, do bolchevismo, do stalinismo, do libertarismo, da destalinização, que correspondiam ao que chama de “brecha no presente”, onde: o conhecimento do presente requer o conhecimento do passado que, por sua vez, requer o conhecimento do presente.” (Morin, 2012, pag. 13)
Pois com certeza, o “o estado domundo presente carrega consigo, potencialmente, as situações do mundo futuro” e assim trata-se dentro da complexidade identificar estas potencialidades, que não são somente consequências das “criações/invenções atuais que podem ser eventualmente imaginadas” (idem).
Parte do futuro deve ser desvelada, ainda não tomou “forma no húmus do presente”, isto é, desvelar o que está morrendo, numa análise bem mais complexa e mais esclarecedora que o líquido simplista de Zygmunt Bauman.
Para Morin, “os princípios que permitem imaginar a evolução da história” (pag. 15), ao contrário de partir da “inépcia de toda predição fundada numa concepção evolutiva tão simplista … é multidimensional; ela comporta fatores geográficos, econômicos, técnicos, políticos, ideológicos … antes de tudo jogo de inter-retro-ações, isto é, elo em perpétuo movimento.” (idem)
Afirma que tudo que é evolutivo “obedece a um princípio multicausal. A causalidade é uma multicausalidade na qual não somente as inter-retro-açóes se combinam e se combatem entre si, mas também na qual todo processo autônomo produz sua causalidade própria, sempre sofrendo as determinações exteriores, isto é, comporta uma auto-exo-causalidade complexa.” (ibidem)
A análise de Morin que me parece apropriada para o momento, que é derivada de seu Método I – A natureza da natureza, é das “ações que desviam de seu curso, derivam, invertem seu sentido, provocam reações e contra-açoes que as submergem. Daí os efeitos bumerangue, onde o golpe não golpeia o inimigo, mas o autor, e os efeitos ´perversos, cujos burburinhos já estamos percebendo” (Morin, 2012, pag. 16).
Morin parece descrever os fluxos invertidos deste ano, ao dizer: “A história inova, deriva, desorganiza-se. Ela muda de trilho, descarrilha-se: a contracorrente suscitada por uma corrente se mescla com a corrente, e o descarrilador torna-se a corrente.” (pags. 16 e 17)
MORIN, Edgar. Para onde vai o futuro? Petrópolis: Vozes, 2012.