Como caracterizar o ano de 2017
Se quisesse ser simplista diria que foi ano do retrocesso, a posse de Trump, as ameaças nas eleições holandesa, francesa e alemã onde os Nazi chegaram a 11% dos votos, porém esta é só uma face de uma mudança em curso, a descoberta dos Paradise Papers, onde aparecem alguns grandes nomes internacionais como Hamilton e Madonna e a maior surpresa foi a Coroa (nem tanto para quem conhecem as posses da inglesa em diversas ilhas de paraísos fiscais), Petr Sloterdijk caracteriza o nosso tempo como poderíamos pensar em 2018, como tempo da barbárie nunca esteve tão visível e a razão se tornou uma “razão cínica”
O problema é a impotência do discurso de mudança, incapaz de uma visão planetária, com soluções paroquiais, se vê impotente diante de um massacre do capital financeiro e das especulações que fazem em todo planeta, não isentas de paraísos fiscais e corrupções.
Petr Sloterdijk escreveu sobre o humanismo contemporâneo: “Podemos traçar a fantasia comunitária que está na raiz de todo o humanismo de volta ao modelo de uma sociedade literária, na qual a participação através da leitura do cânone revela um amor comum de mensagens inspiradoras. No coração do humanismo tão compreendido, descobrimos uma fantasia de culto ou clube: o sonho da solidariedade portentosa daqueles que foram escolhidos para serem autorizados a ler.
No mundo antigo – de fato, até o início dos estados-nação modernos – o poder da leitura realmente significava algo como pertencer a uma elite secreta, …” (Critica da razão cínica, 1983), construíram a bárbarie como retrata o quadro de Ruben de (1609): O massacre dos inocentes (foto).
E completa: “O conhecimento linguístico já contava em muitos lugares como a proveniência da feitiçaria. No inglês médio, a palavra “glamour” se desenvolveu com a palavra “gramática”. A pessoa que poderia ler seria pensada facilmente capaz de outras impossibilidades.” (Sloterdijk, Critica da Razão cínica, 1983).
O que aconteceu com a leitura, com a vulgarização da cultura, da leitura e até mesmo das artes, substituída por fundamentalismos, auto-ajuda e uma cultura do feio, do horror e até mesmo do terror, assinala Sloterdijk sobre o nosso tempo: barbarie.
Sloterdijk, que não é religioso, afirma que a desespiritualização do asceticismo moderno atual é: “é provavelmente o evento na atual história intelectual da humanidade que é o mais abrangente e, por sua grande escala, é o mais difícil de perceber, ao mesmo tempo, o mais palpável e atmosféricamente poderoso. Sua contrapartida é a informalidade da espiritualidade – acompanhada de sua comercialização nas subculturas correspondente.” (Sloterdijk, 1983).
Escreveu o autor em “Você pode mudar sua vida” (ainda sem tradução em português): “Somente a vontade artística de transformar o futuro em um espaço de oportunidades ilimitadas de elevação de arte nos permite entender o núcleo da regra de procriação: “um criador deve criar […] uma roda auto-propulsora, um primeiro movimento” (Sloterdijk, em (2009) Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik -Você pode mudar sua vida, sem tradução para o português).
Se o nosso tempo pode ser caracterizado conforme o autor pela “barbárie”, o próprio autor também dá respostas apontando para uma reviravolta na cultura, a recuperação de uma verdadeira ética, uma verdadeira religiosidade para construir uma nova cultura