O dualismo racionalista
A base de todo racionalismo ocidental encontra-se o dualismo cartesiano, seu fundamento mais essencial está na res-extensa e a res-cogitans, no fundo é a ideia de que há uma substância “pensante” e outra “corporal”, mal traduzida como dicotomia corpo-mente, na verdade em termos da filosofia atual é a ideia que separa corporeidade da consciência histórica.
Gadamer tratou isto de modo muito aprofundado, primeiro separando a consciência histórica romântica, analisando principalmente Dilthey, e depois a questão da teoria e prática, fazendo um elogio a teoria, na contramão dos “práticos” que no fundo são empiristas modernos.
Rex extensa é aquilo que chamamos de coisa um substância material, enquanto a res cogitans é a substância pensada, ou coisa pensante, na verdade o dualismo corpo-mente é o psicofísico, que também pode ser pensado em termos atuais como corpo-consciência.
O código cartesiano então o que é ? é algo que não suspende o ego, o eu do individualismo contemporâneo, por isso pode ser chamado também de ego cogitans, como alguns autores fazem, caso de Husserl e Gadamer.
É equivocada as ideias de que Descartes tenham raízes fenomenológicas, a leitura do texto de Husserl: “do objetivismo ingênuo a um subjetivismo transcendental”, encontrando desse modo o “fundamento racional absoluto” de todas as ciências positivas é uma interpretação apressada, pois serão questionadas e “incluídas de um só golpe no parêntese da epokhé”, sendo sabadio que o epokhé além de anterior ao pensamento cartesiano tinha para a filosofia antiga um “esvaziamento” completo de categorias e do próprio ego para penetrar na a-letheia.
Assim o ser do res cogitans não é, ser essencial, mas apenas residual; , pois não pela redução transcendental ao que “todo ente concebível para mim e toda esfera de ser de um tal ente” ao ego absoluto, e sim pela abstração lógica e matemática, nada tendo a ver com o transcendente.
Husserl é claro ao apontar que no § 10 das Meditações cartesianas, intitulado “Como faltou a Descartes a orientação transcendental”, é possível captar o eu puro e suas cogitationes.
O cogito ergo sum não é, portanto um epokhé, pois não suspende o próprio ego e suas pré-concepções e a tabula rasa que será um acréscimo de Kant também terá problemas.