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O padre Antunes e o Estado

06 nov

Antes de repensar o Estado, Antunes parte do Portugal real, depois de delinear nas primeiras páginas a identidade e as fragilidades do povo, sem sair pelo chauvinismo ou isolacionismo que foi próprio durante certo período pós-colonial, afirma o pensador: “É fácil pôr no papel dezenas e dezenas de partidos políticos. É fácil fazer proclamações ideológicas como se elas contivessem a última e definitiva verdade. É fácil apontar programas, inumeráveis e ideais, mas que não mordem no real” (Antunes, 2011, p. 38), destaca-as de vez.

Vai repensar o estado português, conforme diz “partindo do país que somos”, não sendo possível colocar de lado: “nossos problemas mais graves: o do Ultramar, o da emigração, o dos múltiplos atrasos que nos afectam nos campos político, social, económico, científico, tecnológico e cultural.” (idem, p. 38), dizendo a constatação de que “durante cinquenta anos se viveu na hipertrofia do Estado”, e isto é válido não só na Europa, mas também em muitos modelos de estados contemporâneos.

Depois de desfilar as funções do Estado, vai desenvolver duas linhas de reflexões, sobre dois modelos opostos: “ uma grande linha de clivagem se ergue diante de nós: a que separa o Estado monopolista do Estado pluralista” (pag. 42), na qual também o Brasil aprenderá a lição.

Diz do primeiro: “radicalmente centralizador, burocrático, jurisdicista e, tendencialmente pelo menos, totalitário” (idem), diz da lição aprendida em 25 de maio, que nem mesmo seus partidários quiseram defendê-lo, pode-se dizer o autoritarismo já estava morto.

Já o segundo é: “o segundo radicalmente descentralizador, tomando a nação e a sociedade tais como elas são com os seus corpos intermédios verdadeiramente vivos, os seus estratos sociais organizando-se da maneira que mais lhes convier e deixando ao livre jogo do mercado”, parece melhor e menos burocrático, mas “entre estes dois extremos situa-se um amplo leque em que várias combinações são possíveis” (pag. 43) é onde desenvolve suas ideias.

Vai chamá-la de “zonas temperadas” nas quais “o homem pode construir uma existência

mais de acordo com a sua natureza de ser inteligente e livre” (idem).

Pergunta então se Portugal desejará viver nesta zona temperada, onde o “princípio ideológico-afectivo da liberdade, da igualdade e da fraternidade, constantemente em instância de revisão crítica nas suas aplicações concretas e não reduzido a slogan vazio ou a mero discurso retórico sem conteúdo” que em muitas lugares deram lugar não só ao descrédito democrático, mas principalmente cedendo a tentação autoritária.

Certamente seu pensamento serviu para Portugal ir para esta “zona temperada”.

 

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