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O natural e o cultural

09 set

É bastante usada neste momento da história a palavra naturalização, e assim cabe a explicação aqui desta ideia do natural que permeia a cultura ocidental desde a antiguidade clássica, o que existe na verdade é uma dicotomia entre a cultura e o natural.

O renascimento foi um grande movimento de transformação na cultura ocidental, o universo tornava-se infinito, novas terras e novos povos entram na história do Velho Mundo e este clima colocava tudo em discussão, o humanismo italiano foi um destes palcos de históricos movimentos, citamos Pico della Mirandola e Marsilio Vicino e suas obras, porém Dante Aligheri é mais citado.

O Ulisses de Dante vai atravessar os Pilares de Hércules do conhecimento científico, da filosofia, da técnica, da matemática, das artes e das letras, desafiando os dogmas anteriores, porém a física e o domínio da natureza se colocam em lados opostos, embora a Revolução Copernicana seja o grande símbolo desta virada, será o domínio da natureza que se desenvolverá no momento posterior.

A ideia de ausência de limites, da previsibilidade, e das certezas acompanharam a filosofia da modernidade até o advento da física quântica, enquanto a ciência procurava o domínio do natural, e vemos agora as consequências deste domínio no planeta em crise ecológica, a física ponto inicial da revolução copernicana continuou se movendo na direção do mistério das partículas às subpartículas atômicas, do universo harmônico ao caos com buracos negros, com caminhos de minhoca (wormholes) que contradizem o tempo absoluto, são a dimensão espaço-tempo já prevista por Einstein, e que as astrofísica moderna já comprovou. 

As incertezas chegaram a ciência, e Edgar Morin lembra que uma das consequências da pandemia atual em entrevista afirmou: “Não sabemos as consequências políticas, econômicas, nacionais e planetárias das restrições causadas pelos confinamentos. Não sabemos se devemos esperar o pior, o melhor, ou ambos misturados: caminhamos na direção a novas incertezas”, e isto é o futuro.

A naturalização de contextos históricos (raça, etnias e sexismos, por exemplo), na verdade é uma culturalização (embora o termo não exista), e as epistemologias ditas científicas foram importantes para isto, principalmente do ponto de vista histórico, onde foram transformadas em cultura porquanto não eram naturais e nem mesmo reais, mas versões da história.

O planeta, a sociedade e a civilização pede uma trégua, e não sabemos se será possível entrega-la, o clima é cada vez mais tenso, e uma consequência que não esperávamos da pandemia (que devia nos empurrar para a solidariedade) é que estamos mais divididos que antes, a trégua será difícil.

 

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