A idolatria da perfeição
Os mitos e ídolos foram criados justamente para desviar a compreensão da natureza humana, eles mudam de acordo com os contextos e com a evolução das linguagens, porém sempre estiveram presentes na história da humanidade e assim eles próprios devem ter considerações humanas.
Nietzsche nos alertou sobre os riscos de vivermos alimentados por ídolos (ou ideias, que para ele eram sinônimos), mostrou que ao dominar nossa mente e condicionar nosso pensar, sentir e agir no mundo nos tornamos rigorosos com a nossa vida e a dos outros, dizia ser uma força monstruosa, como mito pode-se dizer que sua expressão máxima é Narciso (imagem) e este conduziu a mesmice, a falta de originalidade e de diversidade, a exigência do igual.
Em nome de algum idealismo, e na modernidade ele próprio se tornou uma filosofia a partir de Kant, as pessoas são capazes de ferir e atingir o outro que está fora de seu modelo, e até não deixar construir na vida aquilo que se deixou conquistar por ela.
Também o modelo da eficiência, da produtividade e do rigor social é um modelo de perfeição.
Isso acontece porque o modelo idealista formula que há um modelo ideal a seguir e a realidade que é sempre imperfeita e assim preferem seguir a perfeição das ideias e chegam ao absurdo de submeter os outros a seu modelo de perfeição, acreditam que há um topo a ser atingido.
Então não é possível formular um modelo humano a ser seguido, é claro que sim se entendemos a imperfeição humana como parte de um processo de hominização e de civilização no qual todos os outros humanos devem ter igual possibilidade de viver e de compartilhar o ambiente comum.
Edgar Morin chamou isto de “cidadania planetária”, muitos modelos políticos e religiosos falam de solidariedade, de rejeição ao ódio, mas é preciso observar se não constroem algo que exclui.
Hoje é dia da nação brasileira, tão diversa e rica em raças e etnias, qualquer modelo que não suporte o outro é o tipo de idolatria da perfeição que deve-se rejeitar, não conduz a solidariedade.
A Ética spinoziana, um forte contraponto a ética idealista, formulava que a realidade é sempre igual a perfeição, pois a perfeição só tem sentido quando é realidade não coisa imaginada ou pensada, assim perfeição é realidade na mesma medida que a realidade é perfeita.
Sem o amor e o respeito ao Outro, à diversidade e a tolerância, todo modelo ideal é imperfeito.