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A floresta que limita a clareira

10 mar

O homem moderno, vítima de ideologias, culturas e apostasias religiosas vivem apenas com a consciência da liberdade individual, sem compreender de fato quem é o Outro que não é igual, o filósofo coreano/germânico Byung Chul Han desenvolveu isto em “A expulsão do outro: Sociedade, percepção” (Editora Vozes) no qual fala do vazio adiposo da plenitude.

Este vazio, nada tem a ver com o epoché fenomenológico, abertura da mente e da alma para dialogar e receber o Outro, o diferente, o discurso e a narrativa contrária a nossa, para depois fundir os horizontes no “circulo hermenêutico”, o vazio de alma é positivo, nos eleva.

Através de sucessivas tragédias, a pandemia foi a primeira e não será a última, e aqui não se trata de discurso apocalíptico, e sim da constatação social de uma crise civilizatória em processo cada vez mais profundo e perigoso, não apenas nos governantes, mas também na consciência pessoal.

Chul Han chega a falar estes processos são obscenos na “hipervisibilidade, a hipercomunicação, a hiperprodução, o hiperconsumo, que levam a uma rápida estagnação do igual. Obscena é a ‘ligação do igual com o igual” (Han, 2022) enfim tudo de traduz numa mesmice obscena.

Cita um exemplo muito ilustrativo que é a animação Anomalisa de Charlie Kaufmann (foto), que fala de uma palestrante Michael que vai a Cincinnati para uma palestra e lá se aproxima de uma pessoa por sua voz, Lia é uma pessoa que já o conhece e veio para ver sua palestra e se apaixonam.

Mas o inferno do igual são os funcionários do Hotel, todos iguais e que querem seduzir Michael.

O ensaio dá ênfase ao amor erótico, porém isto serve também para o amor agápico, sem se apaixonar e dialogar com o diferente, vivemos no inferno do igual, no nosso circulo vicioso, em um ambiente cheio de vícios e de obscenidades, no pior sentido da palavra.

Na narrativa bíblica, Moisés que tentava levar seu povo a um caminho novo, queriam apedrejá-lo e blasfemavam contra a proposta de uma vida diferente (Êxodo 17,3-7), chegam a pedir a volta da escravidão egípcia (qualquer semelhança com a política atual não é coincidência), e também no capítulo 4 de João, Jesus vai ao encontro da samaritana, mulher e “pagã” e dialoga com ela.

Na semana que se comemorou o dia da mulher, é importante isto que não é um detalhe bíblico, mas a essência de sua mensagem, Jesus ao encontrar-se com ela que estranha seu interesse e diz “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” (Jo 5,9).

A obscenidade e a mesmice do igual não só empobrecem cada um, mas limita o processo civilizatório que é enriquecedor quanto mais o diferente possa existir com dignidade.

 

HAN, B. C. A expulsão do outro: sociedade, percepção. Trad. Lucas Machado.Petrópolis, Vozes, 2022.

 

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