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O mal simbólico

21 set

Uma das características de Paul Ricoeur é a busca por explicações sobre quem é homem e as circunstâncias que os afetam, entre elas há uma abordagem sobre o mal pois ele afeta todas as pessoas, de maneira direta ou não.

Essa busca na filosofia vem desde Platão que definia o Sumo bem como: o destino final de todas as coisas, que para Aristóteles é o melhor bem, ligado ao logos, assim a ciência, enquanto na filosofia cristã será Deus e o paraíso.

Também é importante o pensamento neoplatônico de Agostinho de Hipona, para o qual o mal é a ausência do bem, e assim não é seu oposto, mas sua ineficacia.

A filosofia medieval associa o Bem ao paraíso e o mal àquilo que conduz o homem a sua destruição, não apenas na vida eterna, mas já nesta vida, veja-se por exemplo Boécio em suas “Consolações filosóficas” e Tomás de Aquino para o qual ha uma “imperfeição” do Ser, de virtudes na natureza do ser, que o priva do bem.

Na filosofia contemporânea a visão idealista e iluminista relativiza-o e quase inevitavelmente cairá em visões maniqueístas do mal e do bem, ou seja, arbitrárias, dependente muito mais de convenções e conivências sociais.

Paul Ricoeur e Emmanuel Levinas destacam-se no tratamento do bem, eles retomavam a questão da relação do bem e o ser de modo parecido e diferente.

Para Levinas o bem antecede o ser, mas não é na consciência nem no discurso, assim transcende o ser, assim define-o como o outramente do ser, aquilo que o liga ao infinito e seu sentido ontológico, é o da ética do Outro.

Paul Ricoeur ao penetrar, através da hermenêutica, de modo mais profundo na questão do mal, retoma a questão do mito, em especial do mito adâmico (Caim matou Abel) onde o mito “é o lugar procurado de fusão entre história e ficção” (Ricoeur, 1976, p. 295), mas também trata a questão “simbólica” do mal.

Este texto citado acima é fundamental para conhecer o pensamento de Ricoeur porque ele trata-o dentro daquilo que para ele é “a crise da filosofia” de hoje.

A questão simbólica do mal é a morte salvífica que não encerra, mas reinscreve na história da humanidade as pautas míticas e mesmo o iluminismo e o idealismo não estão fora disto, já que criarão estruturas simbólicas de “salvação” do homem.

RICOEUR, P. La philosophie aujourd´hui: entretien sur ce qu´on appelle la crise de la philosophie. Lousanne: Grammont-Salvat,1976.

RICOEUR, Paul. A Simbólica do Mal. Lisboa: Edições 70, 2013.

 

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