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Ética e resistência

15 fev

O formalismo idealista hegeliano estabelece uma eticidade, uma vez que vê na finitude do homem uma fatalidade, no dizer de muitos pensadores sua mundaneidade, entretanto as categorias usadas na fenomenologia, onde se volta a coisa em si nela há a essência do Ser.

Foi Emmanuel Levinas que abriu esta essência para a relação com o Outro, e a chama de uma resistência ética, declara-a como uma epifania, no sentido filosófico de aparição, que é uma abertura a exterioridade ao ser infinito, onde esta resistência pode se manifestar.

Assim diferente da ideia da abertura do Ser ou da transcendência idealista, relação do sujeito com o objeto, sua exterioridade é aquela que o Ser interior manifesta-se diante do infinito, sua abertura ao Outro requer um exame de consciência: amamos ou odiamos, perdoamos ou nos ressentimos diante do diferente, favoreço a ética e ao comportamento moral, ou a relativizo.

O professor brasileiro Brüseke esclarece: “É curioso a freqüência com a qual está sendo levantada a preocupação ou até o receio de que a mística enfraqueça a moral social” (Brüseke, 2000).

Assim a transcendência de Levinas é uma verdadeira abertura do Ser ao mundo exterior e a vida de maneira ampla e totalitária (claro não no sentido autoritário da palavra), ela pode dar ao Ser uma verdadeira ascese, um reencontro consigo mesmo diante de uma metanóia, uma mudança completa de mentalidade.

Aberto a vida, não significa aberto aos prazeres e circunstâncias momentâneas, mas encontrar um caminho para nossa “ascensão”, um crescimento cotidiano ainda que com obstáculos e percalços, a falsidade de caminhos “fáceis” é que eles não fazem o “exercício” da ascese verdadeira, apenas o contornam com paliativos (ler a Sociedade Paliativa de Byung Chul-Han).

A resistência, categoria também usada por Edgar Morin para o mundo contemporâneo, é mais que um opor-se ao “mal”, ou uma resiliência interior, é uma resistência da esperança, de crer que um caminho alternativo é possível, que a guerra não é uma saída, e que teremos futuro.

A filosofia e a ciência não são opostas ao crescimento espiritual da humanidade, em certa medida até podem ser complementos saudáveis para uma fé equilibrada e uma ciência que seja de fato humanizada, não se trata de dominar a natureza e sim de cooperar com ela.

Deve partir de atitudes e decisões pessoais, colocadas em reflexão e vivida socialmente.

Brüseke, F. A ética da resistência. Cadernos de pesquisa interdisciplinar em Ciências Humanas. Florianópolis, SC, v. 1, n. 8, 2000.

 

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