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Totalitarismo e vidas inocentes

04 out

Na guerra a primeira vítima é a verdade, frase atribuída a Ésquilo da antiga Grécia, porém o trágico é a proporção de vítimas inocentes, almas puras e elevadas que a guerra consome por causa do pavor que líderes totalitários tem da liberdade, de pessoas livres e de humanismo verdadeiro.

São inúmeros os casos, desde hospitais e escolas que são bombardeados até casos de tortura e requintes de crueldade com pessoas que trariam grandes frutos para uma humanidade elevada e é exatamente por isso que mentes doentias as combatem.

Descobri entre estes vários nomes, através de uma aluna, uma judia de nome Etty (Esther) Hillesum, uma holandesa filha de pai holandês Louis Hillesum e mãe russa Rebecca Bernstein (Riva), professor de línguas antigas, de quem provavelmente nasceu o interesse por línguas, mas vai estudar línguas eslavas talvez inspirada na mãe, e depois tira mestrado em Direito.

Seus diários e cartas são escritos durante a ocupação Nazista em Amsterdá, entre seus primeiros livros que tomei contato estão “Une vie bouleversée” (Uma vida virada no avesso) e 15 dias de orações com Etty Hillesum (esta publicação em português pelas Paulinas).

Uma de suas frases “dentro de mim há um poço profundo”, onde dentro dele existe areia e pedras que impedem a chegar a algo mais límpido revela um caminho místico e a busca que há dentro dela de atingir uma interioridade mais profunda, é um refúgio, diria uma resistência espiritual ao nazismo e ao clima que era gerado a sua volta.

A relação com psicoquirologista Julius Spier (que tinha influência da Karl Yung), inicialmente para tratamento e depois há um envolvimento pessoal, desperta sua intelectualidade já que em março de 1941 começa a escrever seu primeiro de 8 diários.

Em junho e julho de 1942 aprofunda seu diálogo místico, escrevendo: “Deus se tornou um interlocutor …” e é neste contexto que se pode falar de seus escritos sobre a oração.

Escrito em “15 dias de oração com Etty Hillesum”: “Ele me tomava pela mão, por assim me dizer, e me falava: “Pronto é assim que se deve viver” sobre o primeiro dia, dirá sobre o segundo: “uma hora de paz, é preciso aprender … vou voltar-me para meu interior .. uma meia hora de ginástica e uma meia oração de meditação”, terceiro dia: “Hineinhorchen: escutar interiormente”, escutar a si mesma, aos outros e a Deus.

Assim vou seguinte o itinerário de Etty: quarto dia: “perdoar meus pais e seus limites”, quinto-dia: “entregue a si mesma e á própria guarda”, enfim de uma alma pura e inocente que indica não apenas um caminho de orações repetitivas e sem sentido, mas um caminho interior.

Uma das milhões de alma inocentes morreram em campos de concentração, ela encontra ainda jovem com 29 anos sua morte no campo de Auschwitz, seus escritos são puros e profundos, lembra a pureza das crianças e das pessoas que vivem uma humanidade humana.

FERRIÈRE, P., MEEÛS-MICHIELS, I. 15 dias de oração com Etty Hillesum. São Paulo: Paulinas, 2016.

 

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