História, falsos profetas e parusia
O Natal está próximo e o nascimento de Jesus é um fato histórico, pois houve um Censo ordenado pelo imperador de Roma César Augusto, e José e Maria foram a Belém porque as pessoas deviam ser contadas em suas cidades de nascimento, quanto a data há controvérsias por seriam entre 4-5 a.C., quando Quinino era Governador da Síria como está descrito na Bíblia (Lc. 2,2), porém é certo que o censo foi realizado e este foi justamente o motivo de Maria e José terem ido a Belém, onde Jesus nasceria.
Há controvérsias de datas e da precisão das datas (não dos fatos), uma vez que o calendário foi modificado pelo Império Romano e haveria esta defasagem de 3 anos.
A história também está pontuada de intervenções divinas, na decadência de Roma nascem os mosteiros, onde a cultura da culinária, os primeiros grêmios e ofícios e também uma fase anterior da escrita impressa é realizada, o período final em que ocorre a peste negra no final do século XIV, provocada pelo bacilo Yersinia Pestis que dizimou grande parte da população na época.
Esta doença, porém, dizimou parte do exército mongol que combatia com os genoveses na cidade de Caffa (atual Teodósia) que fica na Península da Criméia, e foi o início da decadência do grande império Mongol (1209-1368).
Entramos na modernidade, fizemos algumas leituras pontuais nos nossos posts de Todos no mesmo barco e Se a Europa acordar de Sloterdijk, onde menciona a obra clássica Decamerão de Boccaccio (1353) como “pequena comunidade em meio ao desastre da grande” (Sloterdijk, 1999, p. 75), faz uma análise da peste negra e que devastou a Europa com mais de 100 milhões de pessoas mortas (imagem acima) quando a população era muito menor que hoje, e sua influência política e espiritual daquele tempo pode ser analisada.
Em nota de rodapé cita da obra cita Henrik Siewierki (traduzida pela Estação Liberdade em 2001) “Uma missa para a cidade de Arras” onde analisa as consequências tanto psicológicas quanto políticas da peste, também o psicólogo Franz Renggli, em seu livro Autodestruição por abandono, desenvolveu a hipótese da influência na modernidade da peste, e também da degradação da relação mãe-filho que teriam provocado uma espécie de fraqueza imunológica, coletiva e psicossomática que favoreceu o vírus daquela peste.
Alguém poderia pensar na época: é o fim dos tempos, mas era uma grande mudança e também o significado bíblico é que (quando ouvires falar de guerras, revoluções): “é preciso que tudo isto aconteça, mas ainda não é o fim” (Mt 24,6).
Toda esta análise é interessante, pois em meio a Pandemia recente (a peste atual), ao mesmo tempo que era sem dúvida um flagelo, pode ele alimentar uma nova clareira sobre a nossa comunidade (palavra usada por Sloterdijk), ou seja, a ideia de uma defesa mútua e solidária em vista de uma catástrofe ainda maior do que a que aconteceu.
Serve para “aplainar os caminhos”, como diz a leitura bíblica quando João, o filho de Zacarias e Isabel, anunciava no deserto usando as palavras do profeta Isaías: “esta é a voz daquele que grita no deserto: ´preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4) e parece propícia a este nosso tempo de flagelo e deserto.
É importante lembrar que as duas primeiras semanas do Natal comemoram não a vinda de Jesus em Belém, mas a Parusia, ou seja, a preparação de sua segunda vinda de Jesus.