A crise precede o advento promissor
É preciso coragem (já postamos aqui sobre virtude cardeal da “fortaleza”) em tempos de crises, valores, instabilidades, relações sociais confusas e muitas pré-ocupações (ocupações antes do tempo).
É normal nestes tempos pessoais ou sociais que a mente se projete para o passado ou futuro, o futuro gera ansiedades e o passado remorsos ou angústias, claro se mal interpretados ou mal colocados, porque em geral é uma passagem a um futuro promissor, um advento, algo a vir.
Não podemos estar sufocados por preocupações que ainda não se materializaram, mas não podemos ser inocentes ou provincianos a ponto de olhar somente um mundinho ao redor, a vida e o mundo vão além de nossos próprios horizontes e sempre há algo promissor a frente.
Byung-Chul Han escreveu sobre a Sociedade Paliativa: a dor hoje, eram reflexões devido a pandemia, porém com um horizonte largo que via uma sociedade que quer abolir a dor e o sofrimento, porém eles existem e são parte inalienável da vida.
As guerras, agora sobre perspectivas de tréguas (vejam o post anterior), uma crise social ao mesmo tempo de valores e de perdas de muitas conquistas anteriores, não é apenas sinal de crise é sinal que algo virá, há um advento que toda a humanidade espera.
Porém cada um tem sua própria ansiedade, um futuro que imagina e até mesmo uma volta ao passado, uma Paris no seu auge que as luzes de Natal podem inspirar, uma Lisboa com seus bons valore nacionais (é triste que nasça um nacionalismo um pouco doentio), porém isto pode ser uma alavanca para pensar num futuro sustentável, uma nova era em que não apenas o mundo eurocêntrico se ilumine, mas também os povos historicamente colonizados.
Na cultura africana, ou afro-americana há celebrações, que embora tenha também origem no Canadá e na região do Caribe, são celebrações que vão de 26 de dezembro a 1º. de janeiro, a Kwanzaa.
Os valores de comunidade e união familiar depois de uma violenta rebelião de Watts (causada por abuso policial contra um jovem negro em 1966), um professor negro Dr. Maulana Karnga, presidente do Centro de Estudos Negros na universidade Califórnia State criou a “matunda ya kwanza”, que significa “primeiros frutos”.
Este é um exemplo do nascimento de um “fruto bom” resultado de uma crise, criando uma festa com canções, danças e batuques com tambores africanos, leitura de histórias e poesias próprias da cultura e uma grande refeição tradicional feita em família ou em grupos sociais.
Ali são lembrados princípios da cultura suali (língua tradicional no Quênia, mas muitos povos africanos falam), um castiçal (Kinara) é aceso com velas de várias cores, ali relembram o “Harambee” que significa “reúnam todas as coisas” e “vamos fazer juntos”.
Não são princípios diferentes da boa cultura ocidental (aquela que não coloniza e respeita valores e culturas locais), é possível assim pensar num advento para toda humanidade, que está além das crises e obstáculos do presente.