RSS
 

Posts Tagged ‘Confiança’

Confiança e humildade

21 dez

Em filosofia moral há dois tipos de confiança: a confiança que se caracteriza pela relação interpessoal mais profunda, a qual envolve boa vontade e vulnerabilidade, e a fiabilidade, um tipo de confiança mais básica que se refere ao funcionamento do mundo e das coisas.

Não estabelece uma boa relação interpessoal sem o respeito, e o respeito exige humildade, simplicidade e relações verdadeiras, também a fiabilidade envolve humildade para aprender o funcionamento do mundo, das coisas e encontrar equilíbrio nas relações sociais.

Há um conceito epistemológico que trabalha a questão da confiança, envolve o testemunho, ele auxilia o conhecimento tanto nas relações pessoas quanto na fiabilidade.

As concepções interpessoais propõem um uso do conceito de confiança fundamentado em analogias, e pode ser aplicada aos debates epistemológicos sem negligenciar a questão moral.

É comum esta negligência por uma concepção excessivamente objetiva e até positivista que ainda influencia fortemente os enfoques epistêmicos, uma proposta interessante para ser analisada é a partir de Richard Foley (2001).

O uso de conceitos morais em epistemologia (LOCKE, 1975; CHISHOLM, 1966) trabalharam na filosofia moral para resolver questões epistêmicas, mas é questionável se a simples redução de conceitos epistêmicos a moral é válido, Firth (1978) defende a irredutibilidade de conceitos epistêmicos, dizendo que embora possam ser concebido de maneira análoga, podendo ser até similares, não são irredutíveis um ao outro, o que pode causar uma confusão teórica.

Então porque são análogos e relevantes, porque muitas das nossas crenças diárias (não são necessariamente os conceitos objetivamente científicos) são adquiridas pelos atos de fala de outros seres humanos nas relações do dia a dia, o problema então é justamente saber aceitar esses atos de fala como fontes epistêmicas, já que eles o são em diversas culturas e em larga escala social.

Foley utiliza o conceito de autoconfiança (self-trust), mas a relação que estabelecemos com nossas próprias faculdades é uma relação de fiabilidade (reliability). Se buscarmos as origens de ambos os conceitos, encontraremos diferenças consideráveis entre fiar-se (rely)e confiar (trust), porém usa-os como sinônimos e ignora as diferenças.

O equívoco de Foley é justamente por desconsiderar as características morais da confiança, e é importante de ser estudado por isto, no cotidiano esquecemos de confiança envolve aspectos morais, entre eles um fundamental que é a humildade em reconhecer a fala do Outro.

 

CHISHOLM, R. Theory of knowledge. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1966.

FIRTH, R. Are epistemic concepts reducible to ethical concepts? In: GOLDMAN, A. I.; KIM, J. Values and Morals. Dordrecht: D. Reidel, 1978.

FOLEY, R. Intellectual trust in oneself and others. Cambridge, New York: Cambridge University Press, 2001.

LOCKE, J. An essay concerning human understanding. Oxford: Clarendon Press, 1975.

 

Entre a confiança e o medo

04 jan

A luta pelo poder e a ganância de grandes lucros invadiram todos ambientes e um fator que leva a um ambiente é a desconfiança, em geral é fruto dos medos que a pandemia gerou e da ansiedade pela vacina.

Medo do diferente, do pouco convencional e de ousar, pensar em áreas de fronteiras ou mesmo fora nas ciências, no mistério, nas espiritualidades e no humano.

Há uma distância entre a confiança e o medo é o discernimento, quase sempre atado ao convencional, nem tudo que é novo é bom, porém ali pode estar a superação dos medos.

Confiar é ousar, é ir de encontro ao Outro, ao diferente e ao mistério.

A pandemia revelou duas faces da humanidade, uma boa que é a capacidade de resiliência, o respeito à saúde e o cuidado com o Outro, e um lado obscuro de deixar acontecer e ver o que dá.

Alguns posts serão mais curtos devido o período de férias, mas sempre propiciando alguma reflexão.