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Dualismo ontológico e Espírito em Hegel

02 jun

Em oposição à ontologia clássica Ser e Nada, em Hegel não se excluem em absoluta afirmação ou negação, nele se integram dentro de um discurso racional, assim o “ser” pode ser totalmente vazio e se identifica com o nada, com isso sua primeira determinação lógica é o Devir.

Seguindo esta lógica, que vem de Kant e mais longe de Parmênides, Ser é e não Ser não é, cria a ideia de espírito absoluto que é a identidade eternamente em si, que conhece por si mesmo, e assim a substância infinita é una e universal, não enquanto particular e finita, sendo dividida por meio do juízo em si mesma, em um saber o qual ela exista tal.

Para os sofistas também o conhecimento deve estar relacionado aos prazeres e a vida boa, o discurso está em Filebo de Platão, que tem a intervenção de Sócrates que dará sentido ao Ser.

Tanto para a arte, para a religião como para a filosofia possuem para Hegel, níveis diferentes de realidade, estes correspondem aos significados de natureza, espírito e ideia, todas são manifestações do espírito absoluto.

Assim como o idealismo clássico permite a separação e sujeito e objeto, o idealismo ontológico de Hegel permite o espírito absoluto levado ao nível de religião, que nada tem a ver com as religiões clássicas, ou ao materialismo dialético, assim se diferenciaram os velhos e novos hegelianos.

A religião em Hegel, pode ser caracterizada como algo que se parte do sujeito pertencente a ele o espírito absoluto, isto é, sua subjetividade, diz em sua obra:

“A consciência subjetiva do espírito absoluto é essencialmente, em si, processo; cuja unidade imediata e substancial é a fé no testemunho do espírito enquanto a certeza da verdade objetiva. A fé, que contém ao mesmo tempo essa unidade imediata, essa unidade enquanto a relação daquelas determinações diferentes passou na devoção, no culto implícito ou explícito. Para o processo de suprassumir [aufhebn] em libertação espiritual a oposição de  confirmar  por essa mediação aquela primeira certeza, e em ganhar a determinação concreta daquela certeza, isto é, a reconciliação, a efetividade do espírito”. (HEGEL, 1995, p.340).

Para aqueles que desejam uma compreensão mais profunda sobre a religião em Hegel, chamada por ele de “religião absoluta” em referência ao espírito absoluto, a obra Fenomenologia do Espírito é indicada.

HEGEL, G.W.F. Enciclopédia das Ciências Filosóficas Em Compêndio. Tradução Paulo Meneses e José Machado. 2. ed. São Paulo: Vozes, 1995.

* aufheben é usado por Hegel para explicar o que acontece quando uma tese e antítese interagem e, nesse sentido, é traduzido principalmente como “suprassunção”.

 

O Espírito e a ontologia dualista

01 jun

Desde o pensamento de Permênides e Heráclito, a filosofia ocidental oscila entre o Ser e o Devir, sem que hajam em ambos uma resposta a questão clara do espírito, ou caímos no subjetivismo da Alma que vem dos neoplatônicos como Plotino, que dizia que só a Alma é Una, ou caímos numa visão dialética moderna: tese, síntese e antítese, que é resultado do Devir.

Entre os autores que tentaram romper com este dualismo está Bergson, que introduz a questão do espírito em seu pensamento, tentando desconstruir a ontologia delineada a partir do séc. XVII atacando a velha teoria do conhecimento, que elabora conceitos e propriedades sustentados na negação do tempo e no conceito de duração ligado ao Ser.

O pensamento de Bergson, grosso modo, é uma metafísica tradicional partindo das opções dos pré-socráticos entre Ser e Devir, e escolhe a substancialidade (permanência) e a ideia (fixidez) como pilares do seu pensamento, então “procurar a realidade das coisas cima do tempo, além do que se move” (BERGSON, 1959, p. 1259).

Pode-se dizer que o problema na reflexão de Bergson está na análise genética da representação, e esta por sua vez está vinculada ao embate do próprio dualismo na tradição filosófica, em especial a moderna, qual seja, a crítica da oposição entre “realismo x idealismo”.

Depois de discorrer sobre a questão da Memória e da Matéria, ponto alto de sua filosofia, cai na armadilha do pensamento ocidental definindo os termos do problema em termos de “imagens” (para alguns autores seria o meio do caminho entre a coisa e a sua percepção no “ente”), e pretende com isto incapaz dos excessos da “coisa material” a “representação espiritual” (o cone na figura).

Assim a imagem é uma presença nos sentidos permitindo a descrição ingênua e direta da experiência (ou da percepção) da matéria, pode-se dizer que o novo dualismo está preso ao significado da representação espiritual, e assim poder-se-ia romper com o dualismo corpo e alma (ou mente).

A questão da representação permeia seu pensamento, assim espírito é apenas um recurso para ela, em seu Ensaio isto fica claro pela divisão dos capítulos: se o primeiro trata da “Seleção” para a representação, o segundo e terceiro vão analisar o “reconhecimento” enquanto o quarto vai tratar da concepção metafísica da matéria, ao defini-la como totalidade e continuidade extensa (lembra a res-extensa cartesiana) e apresenta-a como solução do problema do dualismo a “delimitação e fixação das imagens”.

Assim a transcendência entre sujeito e objeto de Kant é apenas recolocada de outra forma, então a questão do Espírito é apenas um artifício engenhoso, porém não resolve o dualismo idealista.

BERGSON, H. Oeuvres Édition du Centenaire. Paris: PUF, 1959.