Arquivo para junho 2nd, 2015
Segunda dicotomia: natureza vs cultura
Toda a filosofia clássica sobre a elaboração do Estado passa pela relação do homem com a natureza, quando na verdade é com a cultura, pois a natureza é única e é possível falar de uma teoria unitária da natureza como falou Edgar Morin em seu método: “A natureza da natureza”, que não é a cultura.
Francis Bacon que dá origem ao empirismo, já havia afirmando que “não se pode dominar a natureza se não obedecê-la”, mas o empirista John Locke dirá mais tarde discordando de Tomas Hobbes que o homem não é o lobo do homem como este pensava, mas desenvolve o sua natureza no interior de uma sociedade, ora então é cultura e não sociedade.
Jean Jacques Rousseau vai teorizar o bom selvagem, o homem ingênuo que habita a sociedade, todas estes teóricos chamados “contratualistas” não estão fazendo outra coisa senão justificando a violência do Estado, Francis Fukuyama vai dizer que Aristoteles discordaria dele justamente por que o Ser aristotélico não está em ruptura com a natureza, assim: “Aristóteles discordava (a tradução correta seria discordaria) de Hobbes, Locke e Rousseau em um aspecto crítico. Afirmava que os seres humanos são políticos por natureza e que suas capacidades naturais os levam a florescer em sociedade” (FUKUYAMA, 2013, p. 42).
Assim políticos “por natureza”, não significa uma ou determinada forma “cultural” de política ou estado, é por isto que caímos nesta dicotomia cultural e não natural.
Edgar Morin esclarece: “Enfim, a aceitação da confusão pode tornar-se um modo de resistir à simplificação mutiladora. E certo que nos falta o método à partida; mas, pelo menos, podemos dispor do antimétodo, onde a ignorância, a incerteza e a confusão se tornam virtudes.” (MORIN, 1977, p.19).
A natureza, explica Morin está na dificuldade dos saberes isolados: “Assim, a escolha não se situa entre o saber particular, preciso, limitado, e a ideia geral abstracta. Situa-se entre o luto e a investigação dum método capaz de articular aquilo que está separado e de unir aquilo que está dissociado.” (MORIN, 1977, p.18).
A base deste diálogo, além de retomar a questão do Ser, deve-se também superar o saber dialético pelo dialógico, que significa também entrelaçar coisas que aparentemente estão separadas como a razão e a emoção, o sensível e o inteligível, o real e o imaginário, a razão e os mitos, a ciência e a arte.
Devemos então buscar uma nova metáfora, a qual se pensa que a questão do corpo, por sua organicidade que é capaz de colocar os saberes dentro da relacionalidade que eles exigem.
FUKUYAMA, Francis. As origens da ordem política. Dos tempos pré-humanos até a Revolução Francesa, Rio de Janeiro: Rocco, 2013.
MORIN, Edgar. O Método I: a natureza da natureza. 2ª ed. Trad. M. G. de Bragança. Portugal, Europa – América, 1977.