Arquivo para janeiro 24th, 2025
A verdade e a justiça se encontrarão
O encontro da verdade e a justiça ainda desafiam grande parte dos pensadores, Hans-Georg Gadamer, em seu livro Verdade e Método assinala os dois pontos que ainda são entraves para esta dicotomia: “A efetiva exemplaridade que teve a nova mecânica e seu triunfo para as ciências do século XVIII, assinalado pela mecânica celeste de Newton, continuava sendo para Helmholtz tão evidente, que bem longe dele estava indagar sobre quais as pré-condições filosóficas haviam possibilitado o surgimento dessa nova ciência no século XVII” (Gadamer, 1997, p. 42), e aponta isto em decorrência da Escola Occamista de Paris.
Wiliam Ockham (1276-1347) foi um monge escocês que estabeleceu o princípio da “Navalha de Ockham” que diz que entre duas explicações deve-se ficar com a mais e isto chegou até os estudos dos séculos XVII e XVIII, e Helmholtz foi aquele que tentou separar as ciências da natureza de sua derivação histórica, porque assim poderia se trabalhar as ciências do espírito.
Gadamer tem o mérito de desvendar (não é o desvelar que seria atingir a Verdade), ao analisar o romantismo histórico de Dilthey: “no que diz respeito a essa independência dos métodos das ciências do espírito, Dilthey continua vinculando-a ao antigo Natura parendo vincitur* “ (Gadamer, 1997, p. 44) e assim continuou prevalecendo princípios newtonianos nas “Ciências do Espírito” e assim as verdadeiras bases destas ciências ficam atreladas ao logicismo.
O significado do termo latino é “A natureza é superada ao dar a luz”, vincula o natural ao sobrenatural, e assim acaba por negá-lo, este era o intuito de Kant (sapere audi, ousar saber) e que ficou consagrado na modernidade por Hegel: “o real é apenas um aspecto do ideal”.
Não há no idealismo o conceito de virtude (areté), e sim de formação como disciplina pessoal, Wilhelm Von Humboldt corrigiu isto: “Quando nós, porém, em nosso idioma dizemos formação, estamos com isso nos referindo a algo ao mesmo tempo mais íntimo, ou seja, à índole que vem do conhecimento e do sentimento do conjunto do empenho espiritual e moral, a se derramar harmonicamente na sensibilidade e no caráter” (Gadamer, 1997, p. 49).
Assim a modernidade aboliu a meta-física, o que está além do physis (desde os gregos significa a natureza) e do sobre-natural (aquilo que está acima da natureza, o superno natura).
Assim num reducionismo da verdade, quando procuramos a justiça pensamos ser correto usar meias-verdades (os meios justificam os fins) e quando dizemos defender a Verdade, achamos correto suprimir condições de justiça humana e divina para defende-la, há um vinculo entre elas a Justiça sem a Verdade está mutilada, a Verdade sem a Justiça é meia-verdade.
GADAMER, H.G. Verdade e método. Trad.de Flávio Paulo Meurer. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.