Ressentimento e ambiguidades do brasileiro
Retratado por diversos autores, como “patriarca da literatura nacional” José de Alencar, em vários romances, mas em Senhora de modo especial retrata de modo “mimoso” termo usado pelo escritor e ironizado por Martim Vasques da Cunha, retrata a “mercantilização do amor” e não apenas, mas a ambiguidade “aqui não é resultado de uma técnica apurada, mas de uma confusão mental” (Cunha, 2015, p. 57).
Retornamos um pouco atrás, Senhora é de 1875 porque algumas análises nos interessam, por exemplo, Antonio Candido em a Formação da literatura Brasileira esclarece que “a percepção complexa do mal, do anormal ou do recalque, como obstáculos à perfeição e como elemento permanente na conduta humana” (apud. Cunha, 2015, p. 57), onde esta complexidade é porque “não sabemos fazer mais nada senão de comprarmos uns dos outros” (Cunha, 2015, p. 58).
Esclarece Martim Vasques da Cunha, que este “amor” nada mais é do que o romantismo transposto da Europa para a base de nossas próprias intenções, isto já manifesto nos pretendentes do dinheiro em Eugenie Grandet de Balzac (1833) ou Madame Bovary mais fiel ao estilo romântico publicado em 1857.
Corretamente analisado por Vasques da Cunha, Memórias de um sargento de milícias (1854) é um retrato mais realista do romantismo brasileiro da época, onde “a exuberância da linguagem somado ao estilo claro e direto vai contra qualquer intenção de adocicar os personagens que transitam na sociedade imperial por meio de uma retórica empolada” (Cunha, 2015, p. 60).
A diferença entre Alencar e Manuel Antônio de Almeida é que “este evita de fazer qualquer espécie de juízo moral em seu relato” (Cunha, 2015, p. 61).
A contradição do personagem Leonardo, filho de Leonardo Pataca, em que pese a crítica sutil a sociedade da corte, parece em certas análises, como a de Antonio Candido fazer um elogio a “dialética da malandragem”, mas que não passa de sinais ainda forte do romantismo no estilo, conforme dita Cunha (pg. 62) que “tudo vai bem quando acaba bem”.
Conforme diz Wilson Martins em História da inteligência brasileira: “as Memórias são exatamente o contrário de um romance, se for exato como se diz, que a glória suprema do ficcionista consiste em criar tipos característicos: o grande romancista transforma personagens inventados em individualidades psicológicas que se projetam na vida real com valor exemplar” (apud Cunha, 2015, p. 62)
CUNHA, Martim Vasques da. A poeira da Glória: uma (inesperada) história da literatura brasileira, Rio de Janeiro: Record, 2015.