Sociedade do Cansaço
O livro do coreano-alemão Byung-Chul Han “A Sociedade do Cansaço” analisa de modo mais profundo e menos individualista a questão mais profunda do ponto de vista ontológico do homem do final da modernidade: “Doenças neuronais como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (Tdah), transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou Síndrome de Burnout (SB) determinam a paisagem patológica do começo do século XXI” (HAN, 2017, p. 7).
A questão individual, do herói romântico de Dom Quixote que luta contra moinhos de vento, ou do determinismo histórico da questão da consciência em Dilthey, na verdade são traços do idealismo romântico, contornam o problema e tentam resolve-lo do ponto de vista apenas psicológico, sem considerar o social que é mais amplo.
A análise de Chul-Han vai neste sentido, dizer que “o objeto de defesa imunológica é a estranheza como tal” (pag. 8), usando um conceito de Sloterdijk esclarece que o século passado foi uma época na qual se estabeleceu uma “divisão nítida entre o dentro e fora … a Guerra Fria seguia o esquema imunológico”.
Assim “mesmo que o estranho não tenha nenhuma intenção hostil, mesmo que ele não represente nenhum perigo, é eliminado em virtude de sua alteridade.” (pags. 8 e 9)
Explicará na página 10 que a “alteridade é a categoria fundamental da imunologia”, entra em cena a diferença que “não provoca nenhuma reação imunológica”, “o estranho cede lugar ao exótico”, o “tourist viaja para visitá-lo”.
O conceito é devido ao século XX onde a ideia de combater bactérias levou algumas pessoas ao extremo de considerar até mesmo os microrganismos necessários a vida, como aqueles que também devem ser combatidos e não raramente encontrarmos alguém com este Toque.
Recupera o conceito de Immunitas de Roberto Esposito, considerando-a uma falsa hipótese, considerando o excesso de informação, esclarecendo aquilo que é comum ao combate de uma nova epidemia (pela imunologia): “a resistência contra o pedido de extradição de um chefe de Estado estrangeiro, acusado de violação dos direitos humanos, o reforço contra a imigração ilegal e as estratégias para neutralizar o ataque dos vírus de computador mais recentes?” (pagina 11), o autor dirá que nada as separa.
Dirá que “o paradigma imunológico não se coaduna com o processo de globalização … também a hibridização, que domina que domina não apenas o discurso teorético-cultural mas também o sentimento que se tem hoje em dia da vida, é diametralmente contrária precisamente à imunização.” (idem).
“A dialética da negatividade é o traço fundamental da imunidade.” (idem) e quantos discursos este traço nos lembra, aparentemente dentro de um “engagment” é na verdade vazio, pois é ausente de verdadeiras alternativas, é puramente imunológico por acusa o Outro.
Cita na página 15 Baudrillard que fala da “obesidade de todos sistemas atuais”, em época de superabundâncias, “o problema volta-se mais para a rejeição e expulsão” (idem).
Dá um diagnóstico certeiro, vale tanto para “sistemas disciplinares” (os pseudo-éticos) como para a lógica da produção: “o que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho.” (pag. 27)
HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço, trad. Enio Paulo Giachini, 2ª. ed. Ampliada, RJ: Petrópolis, Vozes, 2917.