O tempo do ser
Há um tempo do ser e um do não ser, reclama-se hoje da aceleração, mas o diagnóstico de Chul-Han em A sociedade do Cansaço não é tão distante daquele feito por Santo Agostinho 14 séculos atrás: “O que é o tempo? Como são o passado e o futuro, uma vez que o passado já não é e o futuro ainda não é?” e o presente? Mal dizemos “agora” e já caiu no passado”, isto num tempo em que nem a tecnologia da imprensa existia, o que muda hoje então ?
O direito ao esquecimento sancionado pela corte da União Europeia em 13 maio de 2014 dá o diagnóstico de uma “doença” moderna: a híper conectividade, na gíria brasileira: estar na “pilha”.
O auxílio de máquinas que nos deveria dar tempos de repouso ao transmitir parte de nosso trabalho a elas, e a poder executar tarefas longas mais rápido deveria nos dar descanso, mas não sabemos mais ter o período de contemplação e lazer, parece ser “um tempo perdido”.
Culpamos esta aceleração pela máquina do eficientismos, a concentração de capital, e outros fenômenos que são anteriores a internet, há inúmeros autores do século passado que tocam o assunto como a Paulicéia Desvairada, um conhecido romance de Mário de Andrade de 1922, o quadro d de Salvador Dali nos dá uma ideia sobre a “persistência da memória” ou os primeiros estudos da explosão da informação que fizeram Vannevar Bush pensar na máquina Memex na década de 40,
A mesmice do Mesmo que nunca é Outro, não é devido a tecnologia e sim ao não-futuro.
Diz Mário de Andrade sobre o ser artista, em seu poema dedicado a este:
O meu desejo é ser pintor – Lionardo.
cujo ideal em piedades te acrisola;
fazendo abrir-se ao mundo a ampla corola
do sonho ilustre que em meu peito aguardo.
Meu anseio é, trazendo ao fundo pardo da vida.
a cor da veneziana escola, dar tons de rosa e de ouro, por esmola.
a quanto houver de penedia ou cardo.
Quando encontrar o manancial das tintas
e os pincéis exaltados com que pintas,
Veronese! teus quadros e teus frisos.
irei morar onde as Desgraças moram;
e viverei de colorir sorrisos
nos lábios dos que imprecam ou que choram !
Talvez seja um tempo duro para fazer poesia, ou para contemplar, porém não podemos deixar o Ser morrer por causa de um Tempo cuja fragilidade do Ser sempre se esvai.