Duns Scotus e o realismo moderado
Duns Scotus é o mais típico pensamento do realismo moderado, já que unia a questão da linguagem como parte da essência do ser (como é apresentada a questão hoje) para a existência dos universais, porém sabia que também admitia o nominalismo em parte.
Foi um filósofo e teólogo do século XIII, sua principal tese teológica é que Deus existe através da questão: “se há entre os entes um ente infinito atualmente existente” (Ordinatio I, parte 1, qq. 1-2) e para ele universais como “verdade” e “bondade” existem realmente.
Duns Scotus sustentava um fundamento universal nas coisas (alguns filósofos irão chamar de quididade) que era mais forte que aqueles sustentados por Tomás de Aquino, e a entidade própria da natureza comum que serve de base para a individuação (assim existem cavalos e existe o “cavalo” particular de uma raça, cor, etc.) como para a universalidade que ela se acrescenta, deixando-a como que intocada (o cavalo específico continua “cavalo” universal).
O argumento que separa o “contemplativo” do “activo” é nesta origem do pensamento, a ideia que o Universal está fora do intelecto com o mesmo modo de ser que está no intelecto e era aquilo que os escolásticos chamavam de “realistas ingênuos”, retornando a Platão, há dois mundos a saber: o mundo sensível e o mundo das ideias (eidos).
Ainda que eidos possam ser diferente do idealismo pós-kantiano, permanece no interior deste pensamento uma concepção do mundo “das ideias” diferente do mundo real, ou seja, um nominalismo radical cujas categorias de Aristóteles foram transformadas em “conceitos”.
A ideia fundamental de Platão, e não se assustem está na base do pensamento da modernidade, é que a verdade está lá fora e não no interior do homem, onde a vê por um processo de meditação ou contemplação, conforme já argumentamos Arendt (e outros interpretes da filosofia) veem o mito da caverna de modo diferente, argumentou Byung-Chul.
Não é este tipo de “parreheia” (abertura da Verdade) que Duns Scotto fala, e já falava também Agostinho de Hipona, mas sim aquela verdade que habita no interior de todo homem.
É no quinto argumento que Scotus usa Agostinho: “Se ambos vemos que é verdade o que tu dizes, e se ambos vemos que é verdade o que eu digo, onde, pergunto eu, o vemos nós? Nem eu, sem dúvida, o vejo em ti, nem tu em mim, mas vemo-lo ambos na imutável Verdade que está acima de nossas inteligências”.
Algo parecido é dito por Sócrates: “a verdade não está com os homens, mas entre os homens”.
SCOTUS, John Duns. Seleção de Textos. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.