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Os limites do pensamento lógico

16 ago

O pleno desenvolvimento da ciência moderna e da técnica foi a realização de um programa sonhado por Francis Bacon, René Descartes e Immanuel Kant como um domínio total do homem sobre a natureza num perigoso limiar ético, fabricar aquilo que é natural, porém isto esbarra em dois dilemas: o natural foi e (ao meu ver) sempre será o “não fabricado” e ao torna-la substancia manipulável continuar a ser de fato o que era naturalmente.

Em trechos de apontamentos de Heidegger entre 1936 e 1946 (portanto na etapa final da 2ª. guerra mundial), o autor escreveu um ensaio chamado Superação da Metafísica, e com toda a sua genialidade descreve o que resultaria na produção técnica e industrial da vida, escreveu: “Uma vez que o homem é a mais importante matéria prima, pode-se contar com que, com base nas pesquisas químicas atuais [da época claro], serão instaladas algum dia fábrica de produção artificial de material humano. As pesquisas do químico Kuhn, distinguindo de dirigir planificadamente a produção de seres vivos machos e fêmeas, de acordo com as respectivas demandas” (Heidegger, Uberwindung der Metaphysik, parágrafo 26).

Também Adono e Horkheimer expressaram na célebre Dialética do Esclarecimento, que esta “desde sempre, no mais abrangente sentido do pensamento em progresso, perseguiu a meta de retirar do homem o medo e instituí-lo como senhor. Porém, a terra completamente esclarecida cintila sob o signo do infortúnio triunfal.” (Adorno, Horkheimer, 1987, p. 25).

Também Habermas falava desta extravagância da má ficção científica, produção experimental de embriões, mesmo ateu convicto, em sua obra Die Zukunft der menschlichen Natur. Auf dem Weg zu einer liberalen Eugenik? reclama desta visão de “parceiros da evolução” ou até “brincar de Deus” como metáforas para auto-transformação da espécie.

Não se trata de opor ao avanço da ciência, pensamento retrógrado presente em todos os meios sociais, mas de se opor a má ciência, ao mau progresso que resultam em flagelos para a própria humanidade.

O sentido de recuperar plenamente a vida, de se opor ao crescente autoritarismo e belicismo, de proclamar a paz, o desenvolvimento sustentável e a origem divina da vida humana não é só uma proclamação de fé ou de humanismo sério e sincero, é uma resistência do espírito, da esperança e de uma racionalidade acima da lógica instrumental e agnóstica. 

 

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