Arquivo para setembro 24th, 2015
A crise do pensamento moderno
Husserl desenvolveu um longo caminho de crítica ao pensamento cientificista, a partir de seu livro Crise do pensamento europeu (Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzentale Phänomenologie: Eine Einleitung in die phänomenologische Philosophie) livro de sua maturidade de 1936.
A origem do pensamento é mitológica, e expressão típica da cultura do mito é o rito, conjunto de ações, gestos e palavras que servem para manter uma unidade originária, chamada Arché, numa espécie de hoje atemporal.
Na cultura do mito, quem é o objeto pensado ? é todo o conjunto social, quem é o sujeito que pensa ? não é o indivíduo, mas o grupo social ainda que seja separado em grupos isolados, mais tarde nas cidades-estado, os cidadãos.
Com a emergência da cultura do logos, não há mais a relação com a realidade interna, tudo está “fora” da unidade, e aparece o eu do indivíduo de algum modo, sem sucesso conceitual na tentativa de estabelecer uma unidade, Leibniz criou a “monada” como substância originária de tudo, e Spinoza uma realidade panteísta com Deus presente em tudo.
O cogito pensante é assim um EU, não é mais o divino que tudo envolve e tudo penetra: é a múltipla e varida mudanças das coisas, sem que se consiga estabelecer uma unidade entre elas, porque o objeto está “fora” do Eu.
Neste processo o Eu tende paradoxalmente a anular-se porque cai numa relação “lógica” com o mundo a sua volta, e o objeto desaparece nesta densidade ocultada, e a relação do sujeito com o objeto é oculta.
O existencialismo e a ontologia moderna tentam desvelar esta relação, imersa no nihilismo e no fetichismo (a relação oculta com os objetos) e isto não é senão a maior expressão da crise do pensamento ocidental.