A ontologia trinitária de Piero Coda e o Mal
O Mal, escrevo em maiúscula porque é a categoria ontológica na qual o mal de nossos desafetos e deslizes cotidianos são apenas componentes, deve ser visto dentro da tradição cristã e de muitas outras tradições religiosas como aquilo que deve ser desprezado, combatido e em última instância eliminado, e isto é uma ausência da ontologia trinitária e aí o “Mal” permanece.
Mas se entendemos a figura da Trindade, na tradição cristã, a relação de três pessoas em um único Ser, isto nos remete imediatamente ao amor agápico, como fundamento da religião e é nele que podemos rever a concepção equivocada de Deus e de certa forma de religião, um Deus punitivo.
Seria possível entender isto de modo puramente filosófico, sim e não, sim porque podemos entender o Pai como alguma pessoa com certa autoridade, o filho como imanente ao Pai, e o Espírito Santo como um ser com uma força capaz de resolver as diferenças e esta relação de autoridade e imanência estabelecendo a comunicação e a plena comunhão dos três seres.
Não porque estaríamos reduzindo o amor agápico entre três seres, que de um modo muito profundo fazem que eles sejam um só Ser e isto não é compreensível sem a luz da Fé.
Piero Coda utiliza uma categoria da fundadora do Movimento dos Focolares, que é a figura de Jesus Abandonado para tornar esta epifania uma relação cotidiana com todos os seres e assim cria uma ontologia trinitária, que é capaz de estabelecer uma relação entre o Logos expresso em Jesus, e plenamente realizado na sua figura quando já desfalecido e entregue as dores e sofrimentos na cruz, não chama mais Deus de Pai, mas apenas de Deus: “Meu Deus, meu Deus porque me Abandonastes” diz o relato bíblico.
Qual a lição prática desta figura bíblica poder-se-ia dizer algo paradoxal: Deus não é mais Deus, mas homem, uma ponte entre o homem e o Eterno se realiza, e continua a realizar-se em toda dor, sofrimento e catástrofes humanitárias, então a ontologia trinitária penetra na vida diária.
Ao romper o “muro da inimizade” (Ef 2, 14) Jesus naquele momento cria um campo relacional novo, todos tem acesso ao Outro (Deus) em movimento dinâmico e recíproco, e este campo pode estender-se a toda humanidade, assim realiza já hoje diálogo entre religiões e culturas.
Afirma Coda: “in qualche modo ci é comunicata nella storia l´eterna circulazionde dámore dei Tre … il loro aprirsi ala storia degli uomoni” (Dio uno e trino, Edizione San Paolo, 1993, p. 141).