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Ambivalência e poder: fragmentação do Ser

15 abr

Num caminho contrário ao Outro de Martin Buber, Emmanuel Lévinas e Paul Ricoeur, o filósofo da liquidez Zygmunt BaumanAmbivalencia articula o conceito de Outro com direto a estranheza, assim proferido: “O direito do Outro à sua estranheza (strangerhood) é a única maneira pela qual o meu próprio direito pode expressar-se, estabelecer-se e defender-se” (Bauman, Modernidade e Ambivalência, p. 236).

Para Bauman a ambivalência no plano intelectual teria nascido de uma redifinição da ordem social por uma “sociabilidade densa” pré-moderna, com vista a instauração de uma ordem racional secularizada: “… a época moderna definia-se a si própria, antes de mais, como o reino da Razão e da racionalidade, consequentemente, todas as outras formas de vida eram tidas como destituídas das duas” ( Legisladores e interpretes. Modernidade, pós-modernidade e intelectuais, p. 111), artifício engenhoso mas mentiroso, Foucault tem outra tese:

“O século XVIII foi o século da disciplinarização dos saberes, isto é, da organização interna de cada saber como uma disciplina, tendo, no seu próprio campo e simultaneamente, critérios de seleção que permitem afastar o falso saber, o não-saber, formas de normalização e de hemogeneização dos conteúdos, formas de hierarquização e, por fim, uma organização interna de centralização desses saberes em tornode uma espécie de axiomatização do fato” (Foucault, Il fault défendre a la Societé. Cours au Collége de France, p. 161-162).

O indivíduo de Bauman, moderno por excelência, está entregue à vigilância panoptica, um corpo sitiado, que dentro de uma sociedade perfeita necessitaria de sistemas de exclusão que paradoxalmente fariam uma “des-ambivalência” para tornar a convivência social possível.

Bauman usou o judeu como um exemplo extremo de ambivalência, assim o estranho por excelência seria o louco, sobre o qual recairiam todos os sistema de exclusão (Bauman usa as categorias fábrica de exclusão e imobilidade, quando fala de mundialização).

Criticando a plena forma, que também seria algo ambíguo, ele cria a ideia de um corpo em estado de sítio: “A envergadura da tarefa, agravada a seguir pela sua ambivalência intrínseca, alimenta uma mentalidade sitiada: eis o corpo, e em particular a sua plena forma, ameaçado por todos os lados” (Bauman, A vida fragmentada, p. 127).

Ora a própria especialização dos saberes tornou a vida fragmentada e não o indivíduo que é vitima disto, mas há hoje diversos saberes integradores, ver Edgar Morin e sua complexidade.

Bauman resolveu de modo confuso reabilitar as novas filosofias da história universal, para isto concedeu aos intelectuais o papel de interprete deste contexto de pluralismo, nada mais idealista, elitista e impróprio da pós-modernidade que reivindica os direitos do homem comum, do homo sacer, da “multidão” e da democracia de fato (Odio a Democracia de Ranciére).

Pretender neste fim de século alguma espécie de “conversão civilizada”, estabelecendo “A função política do intelectual” não mais em termos de “ciência/ideologia”, mas em termos de uma nova “verdade/poder”, qual verdade e qual poder ? talvez algum guru definirá.

 

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