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O que nos prepara o futuro ?

07 dez

Além da liquidez baumaniana, uma visão sombria do futuro da humanidade,holograma ou do voluntarismo do tipo “faça alguma coisa” sem refletir sobre o que, há pistas muito próximas de nós, ignoradas por muitos, mas não por todos.

Uma pista sensível é Edgar Morin, sua principal obra é o Método, escrita por quase três décadas e meia, começando em 1973, com o seu livro O paradigma Perdido: a Natureza Humana, o questionamento dele é sobre o fechamento ideológico e paradigmático das ciências, mas nós poderíamos dizer que acompanham a cultura e de certa forma a religião.

O que ele faz é apresentar uma alternativa ao conceito de “paradigma” encontrado em Thomas Khun, para em seguida apresentar o seu “pensamento complexo” que é a tentativa de reunificar as diversas áreas do conhecimento humano, separadas em especialidades, e cujo principal livro é  Sete Saberes Necessários à educação do Futuro, procurando inspirar o educador e dar “dicas” para uma boa prática educacional.

Afirma neste livro de modo encisivo? “Afinal, de que serviriam todos os saberes parciais senão para formar uma configuração que responda a nossas expectativas, nossos desejos, nossas interrogações cognitivas ? ”, ou seja, um conhecimento capaz de questionar o conhecimento.

Depois de falar da “Vida da vida”, em seu Método 2,  o tema não é propriamente novo já que Husserl cunhara a palavra “Lebenswelt”, para dizer a lógica da vida, Morin dirá no seu Método 3, o que é o conhecimento do conhecimento, mas antes completando o Método 2, escreverá Cabeça Bem-Feita, para mim sua obra prima, ninguém que leia este livro, ficará o mesmo.

O Método 3, o conhecimento do conhecimento, apresenta-o de forma inédita, primeiro como uma antropologia do conhecimento, isto é, abordar as condições bio-antropológicas das possibilidades do conhecimento, afirma que “o conhecimento do conhecimento requer um pensamento complexo, que requer necessariamente o conhecimento do conhecimento” (Morin, 1999, p. 257), ou seja, “um pensamento ao mesmo tempo dialógico, reflexivo e hologramático” (Morin, 1999, p. 256), mas o que significa hologramático ?

Hora o holograma é uma projeção de algo real ou imaginário, mas no ar sem sustentação nem substancialidade, com esta metáfora quase-perfeita (ainda é uma metáfora), supera as nossas dicotomias do holismo/reducionismo, do construtivismo/realismo e do espiritualismo/ materialismo, permita “deslocar e ultrapassar o problema dos fundamentos” (Morin, 1999, p. 256) do conhecimento, voltaremos ao espiritualismo/materialismo depois de ler Morin.

O holograma coloca em cena a questão do “inacessível ao conhecimento” (Morin, 1999, p. 16), assim isto nos obriga a “questionar tudo o que nos parecia evidente e reconsiderar tudo o que fundava as nossas verdades” (Morin, 1999, p. 16) de maneira que “a busca da verdade está doravante ligada à investigação sobre a possibilidade da verdade” (Morin, 1999, p. 16)

Para ele o conhecimento é um fenômeno multidimensional, “simultaneamente físico, biológico, cerebral, mental, psicológico, cultural, social” (Morin, 1999, p. 18), mas que foi “rachado” no interior de nossa cultura, pela própria organização do conhecimento, pela disjunção entre ciência e filosofia e pela fragmentação disciplinar da ciência.

A ideia principal de Morin é o “fundamento perdido”, “convergindo para a crise ontológica do Real (…). Nada de base de certeza, nada de verdade fundadora. ” (Morin, 1999, p. 23)

MORIN, Edgar. O método 3: o conhecimento do conhecimento. Porto Alegre: Sulina, 1999.

 

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