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EUA, mais uma profecia de Todorov ?

16 fev

Vamos relendo este maravilhoso escritor búlgaro, que nos deixou no último TrumpNoIsPresiddia 07 de fevereiro, e ao reler Os inimigos da democracia, constato mais uma provável profecia de alguém que além de filosofia e política, falava de literatura e artes, sem nunca perder o encanto e a crença na vida.

No livro Os inimigos íntimos da democracia, traduzido ao português em 2012, afirma que um dos inimigos da democracia é justamente os Estados Unidos e para isto que isto fizesse sentido, precisamos entender o efetivamente é para ele a democracia.

O motivo é que os Estados Unidos construíram um destacado modelo dessa forma de governo, quem conhece a literatura de Democracia na America de Alexis Tocqueville logo vai entender, eles nunca experimentaram golpes de Estado nem censura à imprensa, escreveu Todorov, o sistema eleitoral ali vigente tem comprovado a sua capacidade de apreender o sentimento da maioria, não escreveu mas poderia ter escrito: e se um dia esta maioria se sentisse traída.

Afirma ainda Todorov, que dizia que a democracia era uma forma de controle pelo povo do Estado e não o contrário como creem muitos, ele viu na guerra do Iraque e outras guerras é claro, uma espécie de messianismo americano do tipo: nós defendemos o mundo.

O entendimento que se tem do que seja corresponde à doutrina de Joaquim de Fiori, segundo a qual a história do Ocidente culminaria com uma terceira idade de paz e prosperidade, não era outra coisa senão hegelianismo tardio e iluminismo.

 A característica distintiva desta crença no estado, consiste em que se manifesta num culto afeiçoado ao que se devota às religiões, aliás religiosos de vários matizes não escapam disto.

Ele que viveu na cortina de ferro, afirma que na Rússia soviética registravam-se traços desse comportamento, mas expressão acabada do fenômeno seria a Teologia da Libertação, na medida em que transforma a vulgata marxista em objeto de culto, sem nunca entender a questão ideológica, principalmente no que toca a questão filosófica.

Mas é crítico também do neoliberalismo, que se faz do governo democrático representativo: “Messianismo político e neoliberalismo têm relação, à primeira vista, com duas tendências opostas: o primeiro comprova a capacidade de intervenção do Estado; o segundo, o seu progressivo apagamento. É como se a força de um viesse compensar, ou dissimular, a fraqueza do outro: à marcha triunfal dos exércitos no estrangeiro opõe-se a impotência do Estado em seu próprio território. Tem-se a impressão de que para o presidente americano Obama é bem mais fácil bombardear a Líbia do que fazer aceitar uma melhoria do sistema de seguridade social em seu país.” (Todorov, pág. 148).

Todorov faz várias conclusões, inclusive crítica de modo responsável a tecnologia, mas quanto a democracia afirmou: “A democracia está doente de seu descomedimento: a liberdade torna-se tirania, o povo se transforma em massa manipulável, o desejo de promover o progresso se converte em espírito de cruzada. A economia, o Estado e o direito deixam de ser meios destinados ao florescimento de todos e participam agora de um processo de desumanização. Em certos dias, esse processo me parece irreversível.” (Todorov, pág. 197)

“Em certos dias” é claro, temos que lutar pelo empoderamento da população, permitir que mais pessoas participem do processo democrático, poderíamos dizer em certo sentido do que escreveu Todorov: “mais democracia é o remédio”, onde todos participam de forma direta.

Tzvetan Todorov – -Os inimigos íntimos da democracia. São Paulo: Cia.das Letras, 2012.

 

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