Porque matam os profetas
As ideias e conjecturas que fazemos do futuro podem passar por uma bola de cristal, algum tipo de clarividência, mas não podem deixar de passar por uma análise clara da realidade.
É fato, desde o início do século passado e até antes para quem leia mais profundamente a modernidade, que há uma grave crise na cultura, no pensamento e até mesmo na religião.
Atribuir esta crise a processos recentes como a internet, o uso de tecnologias ou mesmo o fanatismo religioso e no mínimo, uma superficialidade de análise, pois há ainda a crise no pensamento.
Dela falam Husserl, Heidegger, e outro mais recente Edgar Morin, Peter Sloterdijk, Levinas entre muitos dizem de modo claro, a crise de duas guerras mundiais, a crise ideológica que está renascendo com todas as forças, todos são unanimes em afirmar uma crise do pensamento, da visão de mundo e principalmente dos valores.
Preferem dar ouvido ao fanatismo cotidiano de análises simplistas ou fundamentalistas, pois é mais fácil que pensar aonde se perdeu o processo civilizatório, porque não fazemos do diálogo e da reflexão uma arma mais eficaz para entender o real ponto da crise, e até mesmo o que é a crise, fizemos aqui um caminho com a filosofia de Mario Ferreira dos Santos (post).
Matam os profetas porque eles veem e dizem o necessário para hoje: uma cidadania planetária, a distribuição de renda, o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade, o respeito a diversidade e uma mudança de valores que se fundamente na dignidade humana.
Há uma parábola bíblica em Mateus 21, 33-43, aonde um dono de uma vinha a arrendou, e chegando a colheita manda empregados para a colheita estes são mortos, depois manda mais empregados que também são mortos, e o dono por último manda o filho, que sendo o herdeiro , também o matam, que fará o dono da vinha ? o que fez o dono, eis a charada.
Se não nos pusermos a mesa do diálogo com a visão de uma cidadania planetária, e com respeito as diferenças não restará muito para uma nova hecatombe mundial, eis que pedimos que os que se dizem de diálogo, dialoguem de verdade e não sejam arrogantes e tiranos.
Notem foi dado o premio Nobel de Literatura ao japonês que migrou para Inglaterra Kazuo Ishiguro, que entre outras coisas escreveu “As Colinas de Nagasaki” (editora Relógio D´Agua, 2015) alguns anos depois da bomba de Nagasaki (foto) , e agora de manhã acaba de ser dado o prêmio Nobel para ICAN (sigla em inglês do Campanha contra Armas Nucleares), não faltam profetas apenas é preciso que não os matemos culturalmente.