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A verdadeira crise e a dor

30 mar

A verdadeira crise da sociedade contemporânea reside na ideia que é possível abolir a dor, o contraditório e quem sabe até a morte, por isso aboliu não só a ideia  de um Deus Uno, mas qualquer possibilidade de uma cosmogonia que dê vazão ao processo vida-morte-eternidade.

Petr Sloterdijk dá a este fenômeno o nome que considero mais correto “imunologia”, a ideia que podemos ser imunes a qualquer “contágio” e alguns levam isto ao “toc” e ao vício, para ser correto com o autor dou sua definição: “Sistemas imunológicos são expectativas de danificação e violação, somatizados ou institucionalizados, que se baseiam na distinção entre o próprio e o estranho” (Sloterdijk, 2009, p. 709)

É a mais correta, a meu ver, pois toda esta busca por perfeição, imunidades, excesso de moralismo (é diferente da moral que é um ascese justa e verdadeira), fazem o homem cair num vazio sem sentido, querem então culpar os próprios artefatos que constroem pela sua infelicidade, basta uma simples análise e vemos que é outra insanidade: coisas são aquilo que nós humanos emprestamos a ela, portanto a bola da vez volta para o homem e para o Ser.

Dois amigos agnósticos apontaram para mim que creio que há um mundo sobrenatural além do natural, e que Jesus ao se tornar pão e vinho nos explica o que são os artefatos humanos, ao menos estes, bem estes dois amigos apontaram para a cruz e disseram: sem sentido.

Certo o que tem sentido é ignorar a tragédia, o homem diante da morte, “que com a vida engana” dizia Goethe, pois bem: o que é a dor, milhares de medicinas alternativas conseguiram extinguir a dor? alguém já conseguiu ressurgir dos mortos ? as respostas são evidentes.

O uso de drogas, o alcoolismo e a cegueira política/religiosa/social não são outra coisa.

Mas não é evidente, um homem-Deus que foi Jesus, diante da morte e da cruz gritar: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?” mais paradoxal ainda pensar que ele que era Deus indagava por Deus, fato insólito em sua vida pois chamara Deus sempre de Pai.

Talvez pudesse até chamar esta crise de Jesus Abandonado, uma sociedade que quer ir a frente, mas vive retornando ao passado, a ponto que quer reviver A riqueza das nações.

Ignorarmos a tragédia no sentido grego, até Nietzsche reclamou disto, é ignorar sua saída.

SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik. Frankfurt, Suhrkamp, 2009.

 

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