Carregar pesos ou uma vida leve
A mente humana é prodigiosa, mas é a primeira fonte de benefícios e malefícios, como um corpo que ao colocar alimentos estragados reagem, a mente reagirá ao que for colocado lá.
O bombardeio de informação, de consumo e principalmente a ausência de uma ética e uma estética de uma vida leve, leva as mais diversas doenças contemporâneas: a depressão, a ansiedade, o workaólico (trabalho excessivo), e sobretudo uma ausência de convívio saudável.
O filósofo coreano-alemão Byung -Chul Han escreveu que o problema atual já não é mais a aceleração, esta já passou, agora: “é somente um dos sintomas da dispersão temporal” (HAN, 2016, p. 9).
O filósofo já havia alertado estes problemas em “A sociedade do cansaço” e “A salvação do belo”, agora penetra na alma humana e diz que agora o que há é uma atomização do tempo, cada um passa a viver o seu fragmento de si como “seu pequeno eu”, com a “perda radical de espaço, de tempo, do ser-com (Mitsein)” (HAN, 2016, p. 10).
Na sociedade do cansaço desenvolveu o tema da “vita activa” referência a Arendt no animal laborans (ver nosso post), que conduziu a hiperatividade do trabalho (workaólico), agora já é “necessária a revitalização da vita contemplativa”. (HAN, 2016, p. 11).
Reduzir os pesos diários, tirar tempo para a natureza, para o passeio e convívio, não andar com muitos pesos, sacolas, e “atropelando o tempo”, também o consumo é uma descarga de maus hábitos cotidianos, de ausência de contemplação.
É curioso que mesmo para descansar precisamos carregar malas pesadas, comida e um serie de outras coisas que nos lembrem o dia-a-dia pesado e sem o “aroma do tempo”, é como sentir saudades de uma vida que no fundo queremos nos libertar.
Jesus ao mandar seus apóstolos para a missão, para que não se preocupassem com estas coisas, aconselha transportarem pouca coisa, em Marcos 6,8-9: “Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado, nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.”
A vida pode ser leve se não levarmos muitas “malas” e pesos, é curioso observar que mesmo os mendigos que não tem nada necessitem de transportar sacos e lixos, na verdade é o reflexo da mente que está ocupada de coisas estranhas e nada leves, ainda que vivam como sem-nada.
HAN, B.C. O Aroma do Tempo: um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa: Relógio d´Água, 2016.