RSS
 

O aroma e a significação

17 jul

Assim como a arte, o aroma requer apreciação e sensibilidade, mas isto mais tempo do que significação, isto nos diz Byung-Chul Han: “o mundo está carregado de sentido. Os deuses não são mais do que portadores de sentido”. (HAN, 2016, p. 25).

Penetra no significado verdadeiro da narrativa, do oral primitivo e contemporâneo: “a narrativa cria o mundo do nada” (p. 25), mas não a deixa de liga-la a imagem: “o mundo pode se ler como uma imagem” (idem).

Sem citá-las Han parece penetrar na arte rupestre, ao desvelar a relação: “aqui tudo que tem sentido é a eterna repetição do mesmo, a reprodução do já sido, da verdade imperecível. É assim que o homem pré-histórico vive num presente que perdura.” (HAN, 2016, p. 26)

A cosmogonia de Han penetra no escatológico: “distingue de qualquer forma do tempo histórico que promete progresso … o eskáton indica o fim dos tempos … o tempo escatológico não admite ação alguma, projeto algum.” (HAN, 2016, p. 27).

Desvela também o sentido mais profundo da pós-verdade, “o tempo será desfactizado (defaktiziert) e, ao mesmo tempo, desnaturalizado (entnaturalisier)” (pag. 28), ao apontá-la já nas Luzes (o iluminismo): “a revolução refere-se a um tempo desfactizado. Livre de todo ser/estar lançado, de qualquer força natural ou teológica, o mundo, como um colosso a vapor, solta-se em direção ao futuro, onde espera encontrar a salvação” (pag. 29).

Cita Robespierre falando na cerimônia constitucional de 1793: “Les progrès de la raíson humaine ont préparé cette grande révolution, et c´est à vous que´est spécialement imposé le devoir le l´accélérer” (citado na página 29), era o triunfo da razão, também comenta a mesma experiência em “A morte de Danton” escrito por Büchner, ao citar Camille: “As ideias fixas comuns que passam por ser o senso comum são insuportavelmente aborrecidas.” (cit. P. 29).

Byung-Chul separa o tempo oral do histórico ao compreender “o mítico que funciona como uma imagem”, e vê a história da galáxia de Gutenberg como aquela que “cede lugar às informações” (p. 30), para dar a estas uma definição inédita: “na realidade, a informação apresenta um outro paradigma. No seu interior, habita outra temporalidade muito diferente. É uma manifestação do tempo atomizado, de um tempo de pontos (Punkt-Zeit).” (pag. 31).

Volto a página anterior para entender seu conceito de aroma: “A história ilumina … impõe uma trajetória narrativa linear … não tem aroma” (HAN, 2016, p. 30).

Contra a tese de Baudrillard, “a informação não se relaciona com a história como a simulação sempre perfeita do original ou da origem” (pag. 31), dirá por isto é um novo paradigma.

 Dirá ao final deste capítulo que o tempo “precipita-se, apinha-se para equilibrar uma falta do Ser essencial”, fazendo que “a falta do Ser se torne ainda mais penetrante” (p. 32).

HAN, Byung-Chul. O Aroma do Tempo: um ensaio Filosófico sobre a Arte da Demora, Lisboa. Relógio d´Água, 2016.

 

Comentários estão fechados.