Possibilidades do impossível
As dificuldades de ir além do futuro “possível”, dentro dos limites da visão de mundo e do imaginário popular coloca a história em limites quase intransponíveis, e um futuro logo ali na esquina que todos desejam: maior equilíbrio social, respeito a natureza, segurança, tolerância em diversos níveis, educação (em transformação é importante observar) parecem quase impossíveis, o resultado é um eterno retorno.
Voltam os velhos modelos de nacionalismo (o de nação e cultura nacional são importantes), de egoísmo económico e principalmente de divisão e violência política, ainda que apenas verbal.
A razão principal é a ignorância que os fatores comunicacionais, sociológicos e antropológicos mudaram, embora isto exploda nas ruas e manifestações o tempo todo, a saída de uma região de segurança (de conforto é relativo, pois o desconforto é geral) parece impossível.
Isto reflete no conjunto dos pensamentos, elaborações e discursos cotidianos, velhos chavões e retóricas estão de volta, mas será que nada mudou ? creio que já mudou, mas é preciso uma nova “visão de mundo”, um além do bem e do mal, não com Nietzsche preconizava um século e meio atrás, ele próprio disse a seu amigo Jacob Burkhardt: “Peço-lhe que leia este livro (se bem que ele diga as mesmas coisas que o meu Zaratustra, mas de uma forma diferente, muito diferente”, creio que diria hoje ainda mais.
Voltando agora 14 séculos, Santo Agostinho convertia-se deixando o maniqueísmo para aderir a um cristianismo hoje quase irreconhecível, ideológico de duas faces: instrumentalização de esquerda e fundamentalista de direita, creio que Jesus diria: “perdoai-os não sabem o que fazem”, contextualizado sim, pois os ataques são viscerais e literalmente violentos.
É possível uma síntese disto tudo, talvez já que recuamos de diversas formas ideologicamente a um marxismo que chega no máximo a escola de Frankfurt, de outro lado, ou um nacionalismo pré-cambriano, a síntese poderá vir depois desde se houver uma reflexão, agora não há.
Apagar incêndios, evitar um retorno a um autoritarismo sombrio, contornar falácias de fake news, tentar estabelecer um diálogo sobre propostas essenciais: segurança, educação e saúde.
Autocríticas, penso que são impossíveis para discursos messiânicos, é preciso olhar o planeta como um todo e refletir sobre este “eterno retorno”, ao meu ver não há modelos novos, não há pensamento “novo” (nenhuma alusão ao partido de news yuppies), não vejo pensamento novo, não vejo nenhuma nova “clareira”, apenas velhos discursos ideológicos e religiões que mataram Deus, que nada tem a ver com os que preconizam “armar-vos uns aos outros”.
Minha saída, retornar ao ser, em seu ente: o homem em sua persistente existência neste mundo, o ser-no-mundo com suas consequências e riscos.