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Padre Manuel Antunes, se “calhar” é universal

05 nov

A entrada de meu ambiente de estudos em Portugal, deparo com um cartaz que dizia uma conferência sobre o Padre Manuel Antunes: Repensar Portugal, a Europa e a Globalização, os dizeres eram exatamente estes, mas de relance me veio a memória um livro pego na Web para entender um pouco mais de Portugal: “Repensar Portugal” (veja o pdf), depois fico sabendo que há um livro da editora Bertrand com este todo nome do evento, publicado em 2017.

Se calhar é uma expressão portuguesa mais ampla que no Brasil, usada como poderá ser, quem sabe ou mesmo é possível. 
Também revejo meus pré-conceitos, daquela que eu tinha de nossa pátria mãe não só porque chegaram ao Brasil, mas também porque nos deram os governantes imperiais, D. João VI que migrou e estabeleceu a coroa lá, D. Pedro I (aqui em Portugal, D. Pedro IV) e sua filha mais velha nascida em São Cristóvão no Rio de Janeiro, D. Maria II que dá nome a um teatro e alguns sítios (lugares) em Portugal.
A leitura inicial, sem nenhuma vivência em Portugal, era de um país isolado, um tanto acanhado, e o texto do Padre Manuel Antunes confirmava, lê-se no início de Repensar Portugal: “a possibilidade do termo do isolamento internacional, daquele “orgulhosamente sós” que é a contradição mesmo do mundo em que vivemos” (Antunes, 2011, p. 35), onde já pode ler o universal, esta obra no original é de 1979, cinco anos após a Revolução dos Cravos.

Ao falar da Revolução dos Cravos, a que pôs fim a era salazarista, disse o Padre Antunes: “Festa dos cravos de Maio, da confraternização do Povo e das Forças Armadas, do entusiasmo colectivo, de uma certa irmandade não fingida, de uma vasta disponibilidade à abertura, de uma, por vezes cândida e larga, espontaneidade” (idem pag. 35).

De início a curiosidade religiosa me movia, pensando nos sermões do padre António Vieira, mas além do pensamento erudito, foi desta leitura que entendi que devia conhecer seis datas essenciais para Portugal, a Revolução dos Cravos (1974) e: 1385, 1640, 1820, 1910 e 1926.

Destaca já no início, em busca de uma identidade portuguesa, sem chauvinismo, sem messianismos e sem isolacionismo, a vê como um “um país paradoxo vivo dos mais estranhos que a memória dos homens conhece” (pag. 36), com muitas exceções: um império colonial tão largo (Portugal é o primeiro império da era moderna de Macau, Goa até a África e o Brasil), exceção como realizou sua revolução política (a esquerda como é normal), foram as próprias forças armadas que desaparelharam o Estado e fazem voltar do exílio membros de partidos proscritos.

Perguntava na época, fazendo um paralelo ao ano da revolução liberal de 1820 (feita pela coroa), “prefácio às Cortes Constituintes do mesmo ano. Seguir-se-á 1823?” (pag. 37) e teria relação com nossa “independência” de 1822.
Diz em sua obra como que definindo uma identidade portuguesa, após dizer que fizeram várias imitações (1820, a Espanha; em 1834, a Inglaterra; em 1910, a França jacobina com o regicídio e 1926 Itália fascista), foi com o assassinato do Rei Carlos I e o herdeiro que se fez a república.

Porém destaca traços peculiares no povo português: “Povo místico mas pouco metafísico; povo lírico mas pouco gregário; povo activo mas pouco organizado; povo empírico, mas pouco pragmático” (idem) e destaco o traço mais essencial que difere-o de toda Europa: “povo convivente, mas facilmente segregável por artes de quem o conduz ou se propõe conduzi-lo” (ibidem), mas o convívio reservado na privacidade como todo europeu, é prazeroso e alegre diferente de toda europa e parte do mundo onde a indiferença já impera.

Este erudito português, falecido em 1985 não viu Portugal integrar-se a Comunidade europeia e a crise que se sucedeu, mas deu uma sentença fundamental: “A hora lírica está a passar. Começou a suceder-lhe a hora da acção” (ibidem), alertando para modelos de mudança que se estagnaram, que é um alerta para muitos que estão em passos de retrocesso. 

Site: http://centenariopadremanuelantunesj.pt/

 

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