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A trindade e os padres capadócios

04 jun

O filósofo coreano-alemão Byung Chul Han da “A sociedade do cansaço”, partiu da análise de Vita Activa de Hanna Arendt (traduzimos Vita do latim, para vida até aqui), explicando que ela parte da prevalência na vida cristã da vida contemplativa, esclarece em nota que ela busca “uma mediação entre vita activa e vida contemplativa”, e mesmo não sendo cristão usa assuma passagem descrita por São Gregório: “temos de saber: quando exigimos um bom programa de vida, que passe da vita activa para a vita contemplativa, então, muitas vezes, é útil se a alma retorna da vida contemplativa para a ativa, de tal modo que se chama da contemplação que se acendeu no coração transmita toda sua perfeição à atividade.” (HAN, 2015, p. 39)

O corre corre do dia a dia não possibilita este balanço, porém em tempo de pandemia fomos chamados a repensar a nossa vida social, a nossa relação com as pessoas da nossa casa e também o consumo e a solidariedade aos que nestes tempos perderam empregos, passam limitações e estão vulneráveis.

Porém São Gregório tem um outro viés em seu pensamento sobre a trindade, com seus amigos também capadócios, esses padres se viram obrigados a fazer uma autodefesa da acusação do Triteísmo *3 deuses) que pesava sobre eles e então três grandes teólogos da Capadócia (Ásia Menor): São Basílio Magno (330-379), seu irmão de sangue Gregório de Nissa (+349), resolveram a questão.

Visto pela filosofia grega, que é a que dominou a cultura ocidental, “Mia Ousia treis hypostasis”, significa que ousia garante a unidade enquanto substantia et três persone garante que cada uma das três pessoas é única, e talvez o que seja mais difícil de compreender que são de fato três pessoas distintas.

Foi são Basilo o primeiro que estabeleceu a distinção dizendo que em Deus há três pessoas ou três hipóstases, como já escrevemos significa o prosopon que é o que para os gregos a pessoa.

Conforme escrevemos na semana passada houve um esquecimento da relação trinitária, em termos filosóficos é o dualismo de pensamento, a incapacidade de entender situações que são sempre de visões diferentes de mundo, mas que devem manter a unidade.

Já em termos religiosos significa a perda da capacidade relacional, a solidariedade e fraternidade com o outro, buscando uma religião ora maniqueísta, ora fundamentalista, sem qualquer apelo a unidade (ousia) e o respeito a dignidade da pessoa (hipóstases), enfim a relação trinitária.

Curiosamente o filósofo oriental e budista Byung Chul Han faz um diagnóstico muito atual, ele acrescenta que a “perda moderna da fé, que não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas á própria realidade, torna-se vida humana radicalmente transitória” (Han, pag. 42).

HAN, B. C. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017

 

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