Entre a filosofia e os mistérios
A relação entre teologia e filosofia já fazem mais de 5 séculos se perdem, quando algum teólogo sério resolve falar de filosofia é para criticá-la ou para admiti-la acriticamente e então perde a fé.
Li o testemunho de ex pastor metodista americano, que escreveu: “Desisti do cristianismo porque afirma muito e explica muito pouco. Sabemos tão pouco sobre o Cosmos em que estamos flutuando – nossa casa é um sistema solar entre trilhões -, mas os teólogos se gabam e postulam sobre Deus, como se tivessem alguma maneira de saber tudo isto”, David Madison, Final Sermon in a Pandemic Time.
São indagações que muitos fazem, a minha experiência espiritual sempre envolveu algo que me tirava os pés da terra, embora eu me esforce para mantê-los ali, gosto de críticos da religiosidade de nossos dias, como Sloterdijk porque me acordam, e sua descrença no humanismo de nosso tempo é um guia para minhas questões atuais, como na pandemia e os problemas que a envolve.
Quando penso em conversão penso primeiro na minha e depois naqueles que estão comigo na caminhada e depois nos cristãos “adormecidos”. mergulhamos na pericorese, emprestei o texto a alguns amigos e eles me devolveram com comentários, fiz minha própria pericorese, minha fusão de horizontes.
E tive algumas respostas que não imaginava, uma delas sobre o que será o futuro do humanismo, descobrimos em meio a pandemia a solidariedade como também o racismo, a violência doméstica e a insensibilidade de alguns diante do flagelo, na figura acima A cruz nas montanhas de Caspar David Friedrich ( ca 1812).
A resposta e nova questão que encontrei foi na leitura de um texto de Sloterdijk, que ele chama de relação aórgica, está no Matrix in grêmio: um capricho mariológico, ele não é um teólogo, alias afirma que religiões não existem.
Minha questão ela a relação do orgânico, toda a natureza e humanidade e dela a pericorese divina, mas fundada na relação humana, e como se fosse um teólogo, Sloterdijk responde na Digressão 10 do primeiro volume da Trilogia Esferas:
“Matris in gremio: Um capricho mariológico” (pag. 556) em que a interpenetração aórgica se alia à orgânica na gravidez, em Maria, do Filho de Deus, no qual os dois partilham do mesmo espírito e o mesmo sangue, e ambos na Trindade e no útero da Virgem, a interpenetração é surreal, além da pericorese.
Minha questão o que aconteceria se houvesse uma relação aórgica, o orgânico num fenômeno inorgânico real, duradouro, visível a todo ser humano e não apenas aos místicos ? Claro isto num ocorreu, mas se ocorresse ?
SLOTERDIJK, P. Esferas I: bolhas. São Paulo: Estação Liberdade, 2016.