Injustiça e poder
Aqueles que praticam injustiças precisam desviar a vida de seu curso natural, precisam mudar o humanismo para transformá-lo em algo perverso, é preciso influenciar a cultura, retirar dela o que tem de belo e aprazível, desrespeitar os pobres e desamparados e confundir a alma com desejos de poder e avareza.
Poucos homens procuram desviar-se destas ciladas, com isto a ideia que uma pessoa “bem-sucedida” significa que teve sorte, foi abençoada ou lutou bastante domina o senso comum, porém ignoram pessoas e estruturas perversas que os favorecem, e talvez a maioria delas seja a estrutura de poder, por isto ele é fonte de polarização.
Ao longo da história somente os vencedores contaram suas glórias, “ao Vencedor as batatas” diz o personagem Quincas Borba (figura) no romance de Machado de Assis com o mesmo nome, onde ele desenvolve a ideia do humanitas, que enxerga a guerra como uma forma de seleção dos mais aptos, assim justifica a opressão e o empobrecimento dos injustiçados.
O personagem Quincas Borba é uma espécie de filósofo ateu, que tornou-se rico ao herdar os bens de um velho tio, morador de Barbacena, Estado de Minas Gerais, onde permanece um tempo nesta cidade antes de morrer.
Quem irá desfrutar da fortuna deixada por Quincas Borba será Rubião, um modesto habitante do interior de Minas Gerais, que recebe sua fortuna e decide ir viver no Rio de Janeiro, assim fala da migração do interior para as grandes cidades, não na perspectiva dos pobres que vão a busca de trabalho, mas dos ricos que vão em busca de boa vida.
Rubião vai para a cidade e tentará aplicar a filosofia do Humanitas desenvolvida por Quincas Borba e esta é na verdade o tema do livro.
Além do aspecto literário e histórico do romance, característico da época (o romance Quincas Borba foi publicado pela primeira vez em 1891), Rubião ao mesmo tempo que desfruta de uma fortuna fácil, é vítima de sua credulidade provinciana da qual seus amigos que o acolhem na “cidade grande” vão desfrutar.
O tema é universal, mesmo que pintado com cores históricas brasileiras, além das injustiças com pobre e desamparados, as artimanhas e maquinações que tiram também as posses de pessoas que por terem conquistado dinheiro fácil, não sabem como utilizá-lo bem e se perdem nas armadilhas preparadas por falsos amigos avarentos.
Entre as bem-aventuranças cristãs está aquela dedicada aos que tem fome e sede de justiça, “porque serão saciados” (Mt 5,6).