Que justiça e que paz queremos
No post anterior falamos de paz e liberdade, a paz não é a Pax Romana que significava a submissão dos vencidos, aqueles que praticam injustiças precisam desviar a vida de seu curso natural da vida dos povos, precisam mudar o humanismo transformando-o em algo perverso, transformam culturas milenares numa cultura estranha, retiram dela o que tem de mais originário e verdadeiro, desrespeitam os pobres e desamparados ao confundi-lo com desejos de poder e avareza próprios da opressão.
Poucos homens procuram desviar-se destas ciladas, com isto a ideia que uma pessoa “bem-sucedida” significa que teve sorte, foi “abençoada” ou através de estratégias soube acumular riqueza, mas também há estruturas perversas que se favorecem do poder, e muitas delas estão na estrutura de poder, por isto ele é fonte de influência.
Mas há outro caminho o da herança, ao longo da história somente os vencedores contam suas glórias, “ao Vencedor as batatas” (Robert Schwartz escreveu um livro com este título) diz o personagem Quincas Borba (figura) no romance de Machado de Assis com o mesmo nome, onde ele desenvolve a ideia do humanitas, que enxerga a guerra como uma forma de seleção dos mais aptos, assim justifica a opressão e o empobrecimento dos injustiçados.
O personagem Quincas Borba é uma espécie de filósofo ateu, que se tornou rico ao herdar os bens de um velho tio, morador de Barbacena, Estado de Minas Gerais, onde permanece um tempo nesta cidade antes de morrer.
Quem irá desfrutar da fortuna deixada por Quincas Borba será Rubião, um modesto habitante do interior de Minas Gerais, que recebe sua fortuna e decide ir viver no Rio de Janeiro, assim fala da migração do interior para as grandes cidades, não na perspectiva dos pobres que vão a busca de trabalho, mas dos ricos que vão em busca de boa vida.
Rubião vai para a cidade e tentará aplicar a filosofia do Humanitas desenvolvida por Quincas Borba e esta é na verdade o tema do livro.
Além do aspecto literário e histórico do romance, característico da época (o romance Quincas Borba foi publicado pela primeira vez em 1891), Rubião ao mesmo tempo que desfruta de uma fortuna fácil, é vítima de sua credulidade provinciana da qual seus amigos que o acolhem na “cidade grande” vão desfrutar.
O tema é universal, mesmo que pintado com cores históricas brasileiras, além das injustiças com pobres e desamparados, as artimanhas e maquinações que tiram também as posses de pessoas que por terem conquistado dinheiro fácil, não sabem como utilizá-lo bem e se perdem nas armadilhas preparadas por falsos amigos avarentos.
Assim a liberdade não pode estar condicionada a estruturas perversas e nem as formas autocráticas de poder, é preciso que ela contemple de fato a justiça dos simples e humildes, a armadilha do liberalismo está também no romance Eugenie Grandet de Balzac.
ASSIS, Machado. Quincas Borba. Rio de Janeiro, 1891. (ver o pdf da 3ª. edição)